Em meio à repercussão negativa do
corte de 30% de recursos para universidades federais, o presidente Jair
Bolsonaro (PSL) fez uma transmissão ao vivo pelas redes sociais durante a qual
chamou pesquisadores de duas universidades federais — UFC, do Ceará, e UFPB, da
Paraíba, — para falar sobre pesquisas de pele de tilápia para tratamento de
pessoas com queimaduras.
Ele exaltou o trabalho dos pesquisadores e defendeu parcerias para
aplicação dos estudos para curar outras doenças no país. O presidente voltou a
falar também de pesquisas envolvendo o grafeno, tema recorrente em sua fala
sempre que cita temas ligados à ciência e tecnologia.
Num segundo momento do vídeo, ele convidou o ministro da Educação, Abraham
Weintraub, para explicar os cortes das universidades federais.
"Deu uma certa polêmica aí, mas ele vai explicar", disse
Bolsonaro.
Sentado ao lado do presidente, Weintraub usou quatro caixas de chocolates
para fazer uma analogia ao corte de verba. No total, elas somavam cem
bombons.
Para sustentar a argumentação de que o governo não está fazendo corte, mas
contingenciando os recursos, ele reserva parte dos chocolates e diz que eles
devem ser guardados para serem comidos depois.
"A gente não está falando pra pessoa que a gente vai cortar. Não está
cortado. Deixa pra comer depois de setembro. É só isso que a gente está
pedindo. Isso é segurar um pouco. Agora eu me pergunto, senhor presidente, o
senhor já passou por uma situação dessa? Um imprevisto, uma dificuldade na
vida, e falou assim: segura um pouco. Se alguém falasse assim, três
chocolatinhos e meio, 3,5% dos 100, 3,5% segura, porque o salário está
integralmente preservado e pago no dia. A gente tem todo auxílio aos alunos
pago, e agora ficam espalhando que a gente está fechando tudo", disse.
Ao ver que Weintraub abria o quarto chocolate para produzir o meio ponto
percentual de sua analogia, Bolsonaro esticou a mão e comeu a porção que ficava
de fora da conta.
"Tá bom o chocolate?", perguntou o ministro ao presidente ao
terminar sua explanação. "Tá excelente", respondeu Bolsonaro,
"vou até confiscar alguns de você, tá ok?".
Embora tenha sido anunciado um corte de 30%, o MEC divulgou uma nota
afirmando que o impacto será de apenas 3,4% do orçamento total das
universidades federais.
"O orçamento para 2019 dessas instituições totaliza R$ 49,6 bilhões,
dos quais 85,34% (R$ 42,3 bilhões) são despesas de pessoal (pagamento de
salários para professores e demais servidores, bem como benefícios para
inativos e pensionistas), 13,83% (R$ 6,9 bilhões) são despesas discricionárias
e 0,83% (R$ 0,4 bilhão) são despesas para cumprimento de emendas parlamentares
impositivas", diz a nota.
A pasta informou ainda que o bloqueio "não incluiu as despesas para
pagamento de salários de professores, outros servidores, inativos e
pensionistas, benefícios, assistência estudantil, emendas parlamentares
impositivas e receitas próprias".
O bloqueio de verba nas universidades federais chega a R$ 2 bilhões das
despesas discricionárias, ou 29% do valor divulgado na nota do MEC, como a
Folha mostrou no último domingo (5). O dado é do Siop (Sistema Integrado de
Planejamento e Orçamento do Governo), extraído na semana passada.
O ministro disse na live que, apesar do corte, as ajudas aos alunos para
refeitório e moradia estão preservados.
Ele diz que o corte foi feito por decisão do Ministério da Economia, que
exigiu uma contenção das despesas de todas as pastas do governo, justificando
as dificuldades da economia brasileira.
"O Paulo Guedes [ministro da Economia] teve que fazer isso porque a
lei manda a gente contingenciar, segurar um pouco, não cortar. Segurar um pouco
os gastos, não só no Ministério da Educação, que eu sou responsável, mas em
todos os ministérios a gente está segurando um pouco pra cumprir a lei, e não
terminar que nem o governo anterior, que gastou mais, descumpriu a lei e gerou
inflação", afirmou.
"Nesse momento, que está todo mundo segurando, apertando o cinto, a
gente não está mandando ninguém embora. Todos os salários estão preservados. Se
fosse numa empresa, é difícil numa empresa, numa padaria, a gente às vezes tem
que mandar gente embora numa situação dessa. Ninguém está sendo mandado embora,
todo mundo está recebendo em dia, professor, técnico, todo mundo",
afirmou.
Weintraub disse ainda que o governo está recebendo os reitores das
universidades para tirar dúvidas.
"A gente está recebendo todos os reitores. Todos os reitores que
quiserem conversar com a gente para discutir um projeto específico que eles não
tenham verba. Se quiser vir conversar, mostrar os números, ou se quiser fazer
isso no Congresso, a gente está sempre disposto ao diálogo", afirmou. (Via: Folhapress)
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