O que era para ser a realização de um grande sonho tornou-se pesadelo em pouco tempo. Kátia Maria Damasceno, 55 anos, teve complicações após realizar três procedimentos – rinoplastia, mamoplastia e lipoescultura – com um cirurgião plástico da clínica R&E Cirurgia Plástica e Estética Avançada, em Águas Claras.
A mulher revelou ao Metrópoles que logo após a cirurgia passou
por um quadro de anemia severa causada por intensa perda de sangue durante a
cirurgia. Como as feridas do peito não cicatrizavam, a cuidadora de idosos
adquiriu, ainda, uma infecção generalizada e precisou explantar as duas
próteses das mamas com urgência.
“Minha anemia
estava tão forte que eu não conseguia falar. Com 10 dias, o peito começou a
abrir e não fechava mais. Eu mandava mensagem para o médico e tudo para ele era
normal. Ele dizia que estava simplesmente orando por mim. Na auréola mandou eu
fazer uma tatuagem, que ia ficar legal. Chegou a um ponto que outra cirurgiã
disse para eu tirar a prótese ou iria morrer. Sobrevivi, mas minha vida
acabou”, lembra Kátia.
Necroses e infecções: cirurgiã
plástica é acusada de mutilar pacientes.
Veja imagens chocantes:
Agora, são três mulheres, que, com fotos, relatos e boletins de
ocorrência registrados na Polícia Civil do Distrito
Federal (PCDF), detalham os prejuízos após terem passado por
procedimentos estéticos conduzidos pelo médico Reyner Abrantes Stival.
Luzia Mara Fernandes Rodrigues, 39, desembolsou R$ 30 mil, pagos à
vista, para fazer mamoplastia, lipoescultura e lipoaspiração, em maio deste
ano. À reportagem ela contou que em 15 dias os pontos abriram. A advogada
chegou a tentar contato com Reyner, mas o médico estava viajando. Para fechar o
peito, Luzia precisou retornar à clínica diversas vezes, levando mais de 60
pontos.
Ao procurar o cirurgião via WhatsApp, a paciente foi informada de que os
seios estavam “normais” e essa era a “recuperação esperada”. Além da frustração
com as mamas, Luzia desenvolveu anemia severa e teve queimaduras de terceiro
grau no abdômen. Para os curativos e as medicações, a mulher precisou
desembolsar mais R$ 15 mil. De acordo com a ex-paciente, o médico chegou ainda
a perguntar se ela estava preparada para “perder os peitos”.
“Minha vida virou um pesadelo. Tinha bolhas
de sangue por toda barriga e meu sofrimento era além do físico. Não tinha mais
pele para puxar e costurar os seios. Sofro toda vez que olho para minha
barriga, porque estou com uma cicatriz horrível e o abdômen com duas cores. Do
umbigo para baixo, eu nem mostro. Ele sempre me orientava a fazer tatuagem nos
seios e dizia que indicaria um tatuador. Nunca fui tratada com tanto descaso e
frieza”, lamenta.
“Levei 200 pontos”, diz vítima
de médica do DF acusada de negligência.
Sem mamilo
Em julho deste ano, outra paciente, que preferiu não se identificar,
procurou o médico para fazer lipoaspiração e mamoplastia. No terceiro dia de
pós-operatório, a mulher entrou em contato com o especialista ao perceber que
um dos seios apresentava necrose. No WhatsApp, Reyner insistia que a paciente
estava “normal” e “se recuperando bem”, além de indicar que ela continuasse a
passar rifocina no local. O médico estava viajando e não pôde atendê-la
pessoalmente.
Treze dias após a cirurgia, a paciente voltou ao consultório e foi
informada por Reyner que teria de fazer uma tatuagem, pois já teria “perdido o
bico do peito”. De acordo com ela, mesmo com o seio inflamado, o médico
continuava querendo dar pontos.
A mulher resolveu procurar outro especialista, no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), para
avaliá-la. Ela ressalta que precisou tratar das infecções causadas por uma
bactéria, além de passar por outra cirurgia a fim de tentar fechar um dos
seios, que continuava aberto e com a prótese exposta.
Na terceira cirurgia, foi necessário que a paciente enxertasse pele da
virilha para fechar o machucado, que estava aberto, na auréola de um dos seios.
Com a infecção avançada, a mulher também precisou explantar uma das próteses.
“Agora estou nessa situação terrível. Um
peito com silicone, outro sem. Um peito com mamilo, outro sem. Hoje eu estou
bem, mas fiquei muito tempo sem dormir, pensei em me separar do meu marido,
porque eu me sinto péssima. Não tiro a roupa perto dele. Não é fácil passar por
isso”, após o relato, a paciente chorou.
“Me sinto mutilada”
Kátia Maria, outra vítima, mora na França. Ela voltou para casa, mas não
conseguiu retornar à vida normal. A mulher chegou a largar o emprego como
cuidadora de idosos por causa dos problemas de saúde física e mental.
Além dos prejuízos financeiros, a mulher revelou
ao Metrópoles que também não conseguiu dar continuidade ao casamento.
Hoje, ela e o companheiro dormem em quartos separados dentro da mesma casa.
“Não posso trabalhar porque tenho diversas
crises de choro. Ainda sinto dores horríveis. Aqui em casa, já durmo em outro
quarto, porque minha vida conjugal acabou. Não deixo ele me tocar, pois me
sinto mutilada. Meu marido pode arrumar outra se quiser. Eu não consigo nem me
olhar no espelho se não estiver com sutiã”, lamenta.
Investigação
A 21ª Delegacia de Polícia
(Taguatinga Sul) investiga o caso. As três pacientes foram
encaminhas pela Polícia Civil do Distrito Federal ao Instituto de Medicina Legal
(IML) para realizarem exames de lesão corporal.
Procurada pela reportagem, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) afirma
que os processos recebidos sobre o médico Reyner Abrantes Stival estão
tramitando em sigilo. O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) respondeu
que ainda não foi notificado e aguarda a investigação chegar ao órgão para que
seja apurada.
O outro lado
Ao Metrópoles, o médico Reyner Abrantes Stival alega que todas as
pacientes “saíram perfeitas do centro cirúrgico” e algumas não seguiram “o
pós-operatório adequado”. O cirurgião afirma que uma das pacientes que teve
intercorrências era tabagista e foi “para França com 20 dias, abandonando o
tratamento por sua conta”, as outras também “escolheram se tratar com outros
médicos”.
Veja a nota na íntegra
“Sou um médico especialista em cirurgia plástica, pautado por princípios
humanitários, morais e éticos. Todos os meus procedimentos são pautados pelos
mais rigorosos protocolos constituídos pela comunidade científica. Somente
neste ano, foram quase 200 cirurgias realizadas.
As pacientes em questão, enquanto estiveram sob meus cuidados, receberam
tratamentos clínico-cirúrgicos consagrados e não houve qualquer tipo de
negligência por minha parte. Mesmo assim, lamento e manifesto a minha mais
profunda solidariedade a todos os pacientes que apresentaram qualquer tipo de
intercorrência.
Os detalhes de prontuários não podem ser discutidos publicamente,
seguindo normas de ética profissional e confidencialidade.
Por fim, coloco-me à disposição para quaisquer outros esclarecimentos, reforçando que não há qualquer comprovação ou condenação contra a minha pessoa, na justiça, por negligência, imprudência ou imperícia em minha conduta como médico.” (Via: Metrópoles)
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