Seis anos depois do bárbaro assassinato da menina Beatriz Mota, morta com 42 facadas, seis anos de erros, insensibilidade, a pressão aumenta em busca de justiça. Depois de tanto tempo, fica difícil. Há muito mais perguntas inquietantes do que respostas satisfatórias.
É o caso da insensibilidade do governador Paulo Câmara, esquivando-se de
receber os país da vítima; da incompetência de várias apurações, da falta de
compromisso do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora.
Quem seria capaz de assassinar uma menina de 7 anos, com 42 facadas, num
ambiente de festa escolar que reunia 2 mil e quinhentas pessoas? Ritual
satânico, maníaco sexual? Ou a repetição das tragédias gregas, que atravessam
séculos simbolizando o ódio ilimitado de uma pessoa desesperada?
Crimes praticados com arma branca, com o agravante da extrema violência,
estão relacionados com vingança e, provavelmente, o criminoso – ou criminosos –
conhecem a vítima. Os muitos detetives que acompanham o crime sabem disso e
contam com modernos laboratórios capazes de detectar a presença do DNA, mesmo
algum tempo depois do delito.
Eles também têm os detalhes nas imagens, gravadas na ocasião, embora do
local onde o corpo foi encontrado guarde poucos ou nenhum indício da violência.
O colégio e a curiosidade mórbida se encarregaram de apagar. Mesmo assim,
traços de sangue, por exemplo, devem ter sido preservados. Seria impossível
cravar uma faca, 42 vezes no corpo de uma criança que pesa alguma coisa em
torno dos 25 quilos, sem o sangue respingar incontrolável.
Há outras evidências. Quem praticaria o crime terrível e buscaria levar o
corpo para outro local? Beatriz era uma criança ativa, saudável, buliçosa. Nas
imagens feitas antes da tragédia, ela está inquieta ao lado da mãe. Em dado
momento, tem a atenção despertada para alguma coisa, ou alguém sinalizando
perto do bebedouro. Então, ela pede insistentemente à mãe para ir beber água.
Uma criança só pede para beber água numa festa, se estiver bastante
sedenta ou por algum outro motivo menos imperioso.
A partir daquele momento, Beatriz não aparece mais viva. Quem a levou para
o martírio, não usou violência. Certamente conhecia Beatriz e o local onde
estava agindo. Um colégio das dimensões do Auxiliadora, tem muitas
dependências, corredores familiares aos professores, alunos, funcionários. Mas
não a um estranho.
Dias antes, chaves das dependências do educandário desapareceram. Pouco
depois da tragédia o Auxiliadora promoveu a limpeza dos locais do crime e
mandou embora vários funcionários. Agora uma instituição norte-americana se
propõe ajudar. O Governo do Estado deveria encontrar uma forma de promover
parceria. Eles são bons nisso. E têm longa experiência. Ocorrem muitos crimes
contra pessoas no país mais rico do mundo.
A instituição americana poderia examinar acuradamente possíveis pedaços do
DNA, a faca usada no crime. Com isso, saberiam de pronto, o sexo do assassino e
conheceriam a procedência da faca. Uso doméstico, em marcenaria ou na
agricultura?
Na história da criminologia brasileira, há dois crimes igualmente cruéis
que fogem à compreensão humana. Araceli Cabrera Crespo tinha 8 anos quando foi
raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada, no Espírito Santo, em 1973.
Até hoje, ninguém foi punido pelo crime. Após a prisão, julgamento e absolvição
dos acusados, jovens filhos de famílias influentes do Estado, o processo foi
arquivado pela Justiça.
O outro caso, ocorreu no Rio de Janeiro, em 1960, ficou conhecido como o
Caso da Fera da Penha e teve como vítima a menina Tânia, de 4 anos. Também foi
imolada depois da saída de uma escola.
Neide Maria Maia Lopes raptou, assassinou e tocou fogo corpo de Tânia.
Desprezada pelo pai da criança, foi à vingança desmedida. Descoberta, a
criminosa foi presa, julgada e condenada a 33 anos de prisão. Cumpriu menos da
metade: 15 anos e foi solta,
Pelo menos um desses casos, tem muita semelhança com o assassinato de
Beatriz. Que igualmente caminha para a impunidade ou a menor pena. (
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