O autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, do bunker que há muitos anos o abriga nos Estados Unidos, antecipou o obituário do governo do presidente Jair Bolsonaro em entrevista que concedeu a um canal de aflitos bolsonaristas no YouTube.
“A briga já está perdida”, disse
ele logo de início, escutado em silêncio pelos ex-ministros Ricardo Salles, do
Meio Ambiente, investigado por contrabando de madeira, e Abraham Weintraub, da
Educação, que escapou do Brasil com medo de ser preso.
Em seguida, comentou com rara franqueza:
“O Bolsonaro não é obedecido em praticamente nada, nada. Quem manda
no Brasil é a turma do STF, da mídia, do show business. Acabou. E o pessoal das
Forças Armadas? Assiste a tudo isso. Só acredita em neutralidade ideológica. Ou
seja, no Brasil só existem duas possibilidades: ou você é comunista ou você é
neutro. Não existe direita. Existe bolsonarismo”.
Foi adiante:
“O Brasil vai se dar muito mal. Não venham
com esperanças tolas, porque a briga já está perdida. Existem chances de fazer
voltar? Existe uma chance remota, mas só se o Bolsonaro acordar, mas eu não sei
como fazê-lo acordar. Dizem que eu sou o ‘guru do Bolsonaro’. Isso é
absolutamente falso. Conversei com ele somente quatro vezes na minha vida”.
“Então, a minha influência sobre o Bolsonaro é zero. Ele me usou
como ‘poster boy’ [garoto propaganda, em livre tradução]. Me usou para se
promover, para se eleger. E, depois disso, não só esqueceu tudo o que dizia
como até os meus amigos que estavam no governo, ele tirou”.
Aos 74 anos, Carvalho foi o responsável pelas indicações ao governo de
Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores, e Ricardo Vélez Rodríguez,
ex-ministro da Educação. Sobre erros cometidos por Bolsonaro até aqui, Carvalho
filosofou:
“Qual o poder que tem o presidente comparado com o do Congresso
e do Supremo Tribunal Federal? Não tem nada. Ele castrou a si mesmo desde o
primeiro dia. A primeira coisa que eu diria a ele era: ou você [ininteligível]
nas duas primeiras semanas ou está perdido. Porque se você dá tempo para o
adversário se fortalecer, ele se fortalece. Foi o que aconteceu”.
“Você acha que nas primeiras semanas alguém teria coragem de
dizer de Bolsonaro o que dizem hoje? Não tinha, porque o pessoal sentia a força
do apoio popular. Agora já não sente. Essa manifestação do 7 de setembro foi o
maior desperdício de apoio popular que ele já recebeu. Você reúne o povão que
diz: ‘Autorizo’. Autorizo o quê? E o que foi que ele fez? Fez nada”.
E concluiu:
“Tem algum problema com Bolsonaro, não sei qual é. Agora, não
tem outro em quem votar”.
Um bolsonarista que acompanhou a entrevista de Carvalho escreveu em sua
conta no Twitter:
“Correto, aí o que o
Bolsonaro fez? Soltou a mão do povo e segurou a mão do centrão. Virou a as
costas para os apoiadores que o criticavam e com razão, adjetivou de direita
burra, pirralhos, e ao invés de abrir um diálogo, pediu para quem tivesse
descontente que votasse no Hadad.”
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