O esporte mundial está de luto. Morreu nesta quinta-feira (29), aos 82 anos, o ex-jogador e Rei do Futebol, Pelé, vítima de um câncer no cólon. O astro estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, desde o dia 29 de novembro. Ele teve diagnosticada uma infecção respiratória nesse período.
Pelé descobriu o câncer em setembro do ano passado. Em dezembro de 2021 e em janeiro deste ano, o ex-jogador de futebol também esteve internado no hospital para tratar a doença.
Ainda não há informações sobre quando e como será seu velório, bem como as homenagens e seu sepultamento. Pelé deixa três filhos: Kely, Edinho e Rosemeri.
Trajetória
Considerado o "atleta do século XX", Édson Arantes do Nascimento, o Pelé, nasceu em 23 de outubro de 1940, na cidade de Três Corações, em Minas Gerais. Filho de João Ramos do Nascimento e Celeste Arantes, gostava de futebol desde a infância, quando jogava com uma bola de pano.
Em 1944, ele, que um dia seria considerado o maior futebolista de todos os tempos, mudou-se com a família para a cidade de Bauru, no interior de São Paulo. No município paulista, influenciado pelo pai, que era jogador de futebol, jogava no gol, se inspirando no goleiro José Lino da Conceição Faustino, o Bilé, que jogava no Vasco de São Lourenço, de Minas Gerais.
Foi daí que surgiu seu apelido: ele não conseguia pronunciar o nome Bilé corretamente durante os jogos. Falava algo que se assemelhava a "Segura, Pilé" ao fazer as defesas. Então, seus amigos passaram a chamá-lo de Pelé.
No interior paulista, Pelé começou a se destacar, especialmente no Clube Atlético de Bauru. Lá, ele chamou a atenção pelo grande talento e foi convidado pelo jogador Waldemar de Brito para atuar no Santos Futebol Clube, onde mais tarde se tornaria ídolo.
No Santos, em 1956, Pelé fez sua primeira partida aos 16 anos. Um ano depois, foi artilheiro do Campeonato Paulista, com 36 gols marcados. Lá, ele ainda levaria o clube a conquistar dez títulos estaduais e seis campeonatos nacionais, além de duas Copas Libertadores e dois Mundiais de Clubes, em 1962 e 1963, além de marcar seu milésimo gol em 1969.
Seleção Brasileira
Pelé foi convocado pela primeira vez para uma Copa do Mundo um ano depois, em 1958. Seu primeiro gol no torneiro foi marcado contra o País de Gales, nas quartas de final, aos 17 anos, se tornando o jogador mais novo a fazer um gol em uma Copa do Mundo. Naquela edição, fez ao todo seis gols, sendo o artilheiro da canarinha e fundamental para a primeira de cinco conquistas brasileiras de um Mundial.
Quatro anos depois, em 1962, marcou um golaço na abertura do Mundial contra o Chile, mas ficou de fora após sofrer uma contusão no segundo jogo contra a Tchecoslováquia. Tudo parecia perdido, mas ainda assim, Garricha, Nílton Santos, Didi, Zagallo, Vavá e elenco garantiram o bicampeonato para o Brasil.
O auge da seleção viria, porém, oito anos depois, em 1970, já durante a ditadura militar. No Mundial daquele ano, Pelé marcou quatro gols e, junto a atletas como Jairzinho, Rivelino, Carlos Alberto, Clodoaldo, Tostão, Gérson e Félix, conquistou o tricampeonato para o Brasil, naquela que é considerada por muitos até hoje a melhor seleção de todos os tempos.
Restante da carreira
Em 1975, Pelé se despediu do Santos e foi jogar no New York Cosmos, dos Estados Unidos, país até então sem tradição no futebol. A chegada do jogador ao país era considerada uma maneira de despertar o interesse da população do país pelo esporte, à época pouco popular. No clube, entre jogos oficiais e amistosos, Pelé disputou 106 partidas e marcou 64 gols.
Se aposentou do futebol dois anos depois, em 1977, em um jogo do próprio Cosmos contra o Santos, que teve a presença de diversos artistas e personalidades mundiais. Ele disputou o primeiro tempo com a camisa do Cosmos e o segundo tempo com a camisa do Santos.
Ao todo, o Rei marcou em sua carreira 1.281 gols, considerado o maior artilheiro da história do futebol, segundo o Guinness Book (Livro dos Recordes).
Vida pessoal
Pelé teve um irmão: Jair Arantes do Nascimento, conhecido como Zoca, falecido em março de 2020. Ele ficou responsável por cuidar dos negócios e da carreira.
O Rei relacionou-se com mulheres famosas e se casou três vezes. A primeira delas foi de 1966 a 1978, com Rosemari de Reis Cholbicon, onde teve três filhos: Kelly Cristina, Jennifer e Edson, o Edinho, que seguiu a carreira do pai e se tornou goleiro do Santos. Ele chegou a ser preso por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Pelé se casou pela segunda vez em 1994, com a cantora gospel Assíria Lemos Seixas. O matrimônio, que durou até 2008, rendeu os gêmeos Celeste e Joshua. Atualmente, era casado com a empresária Marcia Cibele Aoki, a qual conheceu em 2008 durante um evento em Nova Iorque e com quem oficializou a relação em 2016.
Além dos casamentos, Pelé se relacionou com a jornalista Lenita Kurtz, com quem teve a filha Flávia Kurtz, além de se envolver com a apresentadora Xuxa Meneghel na década de 1980. Ainda, relacionou-se com a ex-Miss Brasil Flávia Cavalcanti.
No entanto, uma polêmica ainda estava por vir na vida pessoal de Pelé. Em 1991, ele descobriu ter outra filha, Sandra Regina, fruto de um relacionamento com a empregada doméstica Anísia Machado no ano de 1964.
O episódio foi marcado por disputas judiciais. Sandra precisou entrar na Justiça para ser reconhecida por Pelé, o que veio a ocorrer somente em 1996, após exames de DNA. Com isso, Sandra Regina recebeu o sobrenome Arantes do Nascimento. Ela morreu em 2006, vítima de um câncer de mama.
Política
Em 1994, Pelé foi convidado pelo então presidente eleito Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para ser Ministro do Esporte em seu primeiro mandato. Ele ficou de 1995 e 1998, quando criou a Lei Pelé, que trouxe importantes modernizações nas práticas esportivas no Brasil.
O objetivo da nova legislação era o de oferecer maior transparência e profissionalizar ao máximo o esporte nacional. Ela levou a importantes mudanças, como o fim do passe nos clubes de futebol do Brasil e a possibilidade de transformação dos clubes em empresas. Além diso, criou verbas para o esporte olímpico e paraolímpico e estabeleceu a independência dos Tribunais de Justiça Desportiva.
Em 1966, com o fracasso na Copa do Mundo e com a implementação do AI 5, o regime utlizou o esporte como ferramenta de controle. Ao retornar com o título de 70, Pelé teve que encontrar o presidente Emílio Garrastazu Médici. "A gente sabia de muitas coisas que aconteciam no País. Outras, não", comenta Pelé, no documentário, sobre os abusos da ditadura
Saúde
Pelé começou a sofrer com problemas de saúde de maneira mais intensa em 2012, quando foi internado para realizar uma cirurgia de artroplastia total no quadril direito. Cinco dias depois, recebeu alta. Em 14 novembro de 2014, foi novamente internado devido a cálculos renais, ureterais e vesicais. Após a cirurgia, recebeu alta, mas dez dias depois, retornou para tratar uma infecção urinária. Ele ficou no hospital até a primeira quinzena de dezembro.
Em maio de 2015, realizou procedimento cirúrgico para ressecção transuretral da próstata. Em julho do mesmo ano, foi submetido a um procedimento cirúrgico na coluna lombar para descompressão de raiz nervosa. Recebeu alta cinco dias depois.
Quase quatro anos depois, em abril de 2019, o Rei deu entrada no Hospital Albert Einstein, após vir do Hospital Americano de Paris, onde havia sido hospitalizado após apresentar um novo quadro de infecção urinária. Embora a infecção tenha sido tratada, exames demonstraram a presença de cálculo no ureter.
Em 2016, Pelé afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, ter sido vítima de erro médico em sua primeira cirurgia realizada no quadril em 2012, o que foi negado pelo Hospital Albert Einsten. Um ano depois, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) concluiu que não houve erro médico no procedimento realizado no ex-atleta e arquivou o processo.
Pelé passou a se locomover com dificuldade. Em 30 de agosto de 2021, foi internado para realização de exames de rotina, quando foi constatado um tumor no cólon direito, que faz parte do intestino grosso.
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