Com uma carreira de mais de 60 anos na atuação, Neusa Borges é um nome respeitado no mundo do entretenimento. Aos 82 anos, ela deu entrevista ao portal Quem enquanto realizava uma faxina no apartamento onde está temporariamente morando no Rio de Janeiro. Neusa está em um bom momento de sua carreira, participando de várias produções, incluindo a terceira temporada de "A Divisão", a segunda de "Encantado's" e o aguardado "Mussum, o Filmis," que estreia em 2 de novembro.
No entanto, mesmo com toda a visibilidade e as oportunidades, Neusa rejeita o título de artista com veemência e reflete sobre sua carreira, que abrange mais de 30 novelas desde sua estreia em 1972.
"Sou dona de casa e mãe. Não sou artista. Não tenho vaidade com a imagem de ser artista, porque eu não tenho ranço artístico. Trabalho por necessidade. O papai do céu não mandou eu estudar para ser advogada, para ser engenheira, professora. Ele me pôs na terra para me ser atriz. Nós precisamos, nós todos seres humanos, trabalhar para sobreviver. Eu, pelo menos, não nasci em berço de ouro", conta.
Acompanhe o Blog O Povo com a Notícia também nas redes sociais, através do Instagram clique aqui.
Observando as mudanças no mercado de audiovisual, Neusa reconhece uma crescente abertura para atores negros, asiáticos e indígenas. No entanto, ela mantém uma visão cautelosa e desconfiada sobre o interesse dos executivos em diversidade, considerando que isso possa ser apenas um modismo passageiro. Ela acredita que é importante ficar atento e não confiar completamente, pois, no Brasil, as coisas tendem a ser efêmeras.
"Agora está esse modismo que voltou. Acho que é modismo, porque não confio. Tudo no Brasil chega e passa como cometa. O negro agora está tendo a sua oportunidade de mostrar o seu trabalho até fazer uma certa sequência. Eu não sei se isso é para toda a vida", avalia.
Ela lembra que há alguns anos as novelas tinham dezenas, "sessenta", atores brancos e um par de negros nos elencos. "Enxergo [o que está acontecendo]. Mas é preciso ficar de olho, prestar atenção. Não se deve ficar: 'Porque agora o mundo é nosso, porque agora o espaço é nosso'. Tenho muito medo deste movimento não continuar no Brasil. O negro existe, sempre existiu", afirma.
Neusa Borges destaca que, embora a representatividade negra tenha aumentado nas produções, ainda existe uma disparidade salarial em comparação com os atores brancos. Ela enfatiza a necessidade de persistência e vigilância para garantir que as oportunidades para atores negros sejam consistentes e duradouras.
Sobre sua própria aparência, Neusa valoriza sua autenticidade e rejeita maquiagens quando possível e procedimentos estéticos. Ela se orgulha de sua idade e suas rugas, sendo uma defensora da aceitação pessoal.
"Gosto de beber minha cervejinha e dar umas bitocas de vez em quando", afirma aos risos. "Me amo tanto, tanto, que se pudesse me casava comigo mesma. Acho que é por isso que parei no nono [marido]", completou às gargalhadas.
Apesar de enfrentar desafios na saúde, incluindo dois AVCs e duas infecções por COVID-19, Neusa Borges segue ativa em sua carreira, apoiada por seu sobrinho Fernando Carlos. Ela destaca a importância do apoio de familiares e amigos em sua jornada.
Neusa está envolvida em diversos projetos, com seu talento permitindo que ela cresça em suas participações, que muitas vezes se estendem além do inicialmente planejado. Com uma agenda movimentada, ela celebra a oportunidade de trabalhar com jovens talentosos e continua aprendendo com eles.
TRABALHOS
Neusa não gosta de ser lida como artista, mas é uma das grandes. Ela destaca que seu talento a proporciona crescer em projetos dos pais é convidada apenas para participações. "De três capítulos viram doze, treze, quatorze. Estou a mil", comemora.
No próximo dia 2 de novembro ela poderá ser vista nos cinemas de todo o Brasil como a Malvina em Mussum, o Filmis, dirigido por Sílvio Guindane, que ela considera da família. "É o filho homem que não tive. Amo esse menino. Adoro o trabalho dele. Agora mostrando que é diretor, que é escritor", celebra.
Além do filme, ela também contracena com ele em A Divisão, do Globoplay, e Encantado's, do mesmo serviço de streaming da TV Globo. "Povo jovem para danar, com talento para danar. Como você acha que estou? Nas nuvens. Aprendendo com esses jovens. Estão me ensinando", comemora.
"A humildade de alguns me impulsiona. Nossa, estou aqui. Ainda não cantei para subir. Estou aqui com essa juventude maravilhosa, trabalhando o tanto que não vi em anos anteriores. E é tudo o que nós, negros, sempre lutamos. Lutamos para isso. Quero continuar da mesma maneira que estou hoje. Com saúde, com disposição, com bons convites", conclui.