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Há duas semanas, a ministra Rosa
Weber, do Supremo, torpedeou uma ordem de um juiz de primeira instância de
Roraima. Mandou desbloquear a entrada de refugiados do derretimento econômico e
institucional da Venezuela. Neste sábado, na cidade de Pacaraima, brasileiros enfurecidos atearam
fogo em abrigos, barracas e pertences de venezuelanos, obrigando-os a cruzar de
volta para o inferno a fronteira que Rosa mandara reabrir. A turba enxotou os
refugiados em reação a um assalto violento à casa de um comerciante. Coisa
atribuída a quatro venezuelanos.
No despacho em que derrubou a ordem do magistrado de Roraima, Rosa havia
empilhado argumentos jurídicos —“A proteção ao refugiado é regra solidamente
internalizada no ordenamento jurídico brasileiro”—, ao lado de razões
humanitárias —“Fechar as portas'' equivaleria a ''fechar os olhos'' para o
drama social que levou 40 mil venezuelanos a se abrigar no Brasil. A decisão de
reabrir as portas foi sensata. Falta agora abrir os olhos das autoridades
brasileiras, ainda semicerrados. Há no gerenciamento da crise dos refugiados
muito gogó e pouco método.
Há dois meses, em visita a Roraima, Temer desfilou para as câmeras num
abrigo de refugiados venezuelanos. Declarou: “Estamos mostrando ao mundo este
sentido humanitário que o Brasil traz consigo.” Em verdade, o improviso federal
e episódios como o surto de ódio deste sábado revelam ao planeta que o amor
dedicado pelo Brasil aos seus vizinhos desesperados não é coisa para amadores.
Um crime praticado por quatro venezuelanos serve de pretexto para tocar fogo no
sonho de centenas. Neste domingo, Temer reúne ministros no Jaburu para
rediscutir o exemplo que o Brasil dá ao mundo.
Em nota divulgada neste sábado, o governo de Roraima martelou novamente a
tecla que Rosa Weber parecia ter desativado: “A solução para a crise migratória
só acontecerá quando o governo federal entender a necessidade de fechar
temporariamente a fronteira…” O texto cobrou providências que Brasília
prometera adotar no início do ano. Por exemplo: “Realizar a imediata
transferência de imigrantes para outros Estados e assumir sua responsabilidade
de fazer o controle de segurança fronteiriça e sanitária”.
O governo federal não age, apenas reage. Confrontado com a crise
humanitária, faz por pressão o que deixa de realizar por precaução. Temer só
esteve em Roraima porque o governo estadual bateu bumbo, exigindo socorro. A
engrenagem da União foi mobilizada para atingir três objetivos: fortalecer a
presença federal na fronteira, para colocar ordem na chegada; fazer um censo
dos venezuelanos; e distribuir os refugiados entre os Estados, tentando
aproximá-los de oportunidades de trabalho. A chegada continua desordenada. Não
há vestígio dos dados que revelariam o perfil dos refugiados. E a
interiorização caminha em ritmo de jabuti tetraplégico.
Durante mais de uma década, sob Lula e Dilma Rousseff, o governo
brasileiro bateu palmas para os malucos de Caracas — Chávez e Maduro— dançarem.
Nessa época, vigorava em Brasília a diplomacia das empreiteiras, levadas à
Venezuela com o dinheiro barato do BNDES. Sobraram os escândalos, o calote no
bancão companheiro e a ruína que despeja venezuelanos como detritos no quintal
dos países vizinhos.
Lula e Dilma continuam oferecendo demostrações de que são capazes de tudo,
menos de dizer meia dúzia de palavras sobre o desastre venezuelano. Sempre que
tem oportunidade, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, solidariza-se com o
regime de Nicolás Maduro. Quanto aos 40 mil refugiados que escorreram para o
Brasil, ainda não se ouviu do PT uma manifestação de solidariedade. E Temer,
outra herança do petismo, faz o pior com os refugiados da melhor maneira que
pode.
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