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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Lama ocupou 62% do tempo de Alckmin no JN


Na entrevista que concedeu ao Jornal Nacional, Geraldo Alckmin tentou apresentar-se como candidato transformador pelo menos 18 vezes. Fez isso nas dez passagens em que repetiu a palavra “reforma”, seis das quais no plural. Ou nas oito ocasiões em que pronunciou os vocábulos “mudar” ou “mudanças”. A despeito do esforço, o presidenciável tucano revelou-se diante das câmeras uma novidade com aparência de pão dormido. Numa conversa de 27 minutos, a lama ocupou 62% do tempo.

Nos primeiros 17 minutos, Renata Vasconcelos e William Bonner abriram diante de Alckmin o gavetão das pendências tucanas: a companhia tóxica do centrão, com seus 41 caciques enrolados na Lava Jato; a convivência partidária com o réu Aécio Neves e o presidiário Eduardo Azeredo; a verba suja da Odebrecht, supostamente coletada pelo cunhado; o ex-secretário do governo paulista preso por desvios no Rodoanel; o operador Paulo Preto, com R$ 113 milhões escondidos no estrangeiro…

A reunião das encrencas apresentou ao pedaço despolitizado da audiência um fenômeno pós-Lava Jato: o fim da blindagem do tucanato. A cada nova resposta, Alckmin exibia ao telespectador a ferrugem que levou o PSDB a replicar a estratégia do PT. Antes, os tucanos acusavam os petistas de proteger corruptos. Agora, os petistas sustentam que protetores de corruptos são os tucanos. E a plateia fica autorizada a concluir que os dois lados estão cobertos de razão.

“Todos os partidos têm bons quadros”, disse Alckmin sobre sua aliança com o centrão. Aécio “foi afastado da presidência do partido”, alegou, como se ninguém tivesse notado que o achacador de Joesley Batista deixou o comando do partido voluntariamente. Azeredo “vai pedir o seu desligamento”, declarou o candidato, abstendo-se de explicar por que o preso continua ocupando uma cadeira na Executiva Nacional do PSDB.

“É mentira”, afirmou Alckmin sobre a delação em que executivos da Odebrecht revelaram a transferência de R$ 10,3 milhões do departamento de propinas da empreiteira para suas arcas eleitorais. O candidato levou a mão no fogo por Laurence Casagrande, o ex-secretário preso: “É um homem sério”. Tomou distância de Paulo Preto, o operador do tucanato paulista: “Já estava fora do governo quando eu assumi.”

Se a entrevista de Alckmin teve alguma utilidade foi para demonstrar duas coisas: 1) O partido fundado por Franco Montoro, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso fracassou na tarefa de formar novos quadros. Preocupou-se tanto em desconstruir Lula e seus súditos que esqueceu de reconstruir sua própria imagem. 2) Dezesseis anos depois de ter sido retirado do Planalto, falta ao PSDB uma agenda capaz de oferecer ao eleitorado a matéria-prima mais escassa no mercado eleitoral: esperança.

Cavalgando a inépcia dos rivais emplumados, Lula dá as cartas a partir da cadeia. E Jair Bolsonaro sapateia sobre Alckmin até em São Paulo, ameaçando desfazer o Fla-Flu que transformou as últimas seis sucessões presidenciais numa disputa particular entre PSDB e PT. Candidato dos sonhos da banca, Alckmin coleciona índices pífios nas pesquisas. Aposta que conseguirá chamar a atenção dos eleitores plantando bananeira no latifúndio televisivo que obteve graças à aliança com o rebotalho do centrão.

Na prévia do Jornal Nacional, o candidato tucano foi contestado mesmo naquilo que acha que fez de melhor: “A política de segurança de São Paulo é um exemplo”, declarou, em meio a questionamentos sobre a pujança do PCC, multinacional do crime sediada no Estado em que nenhum outro político governou por mais tempo do que Alckmin. A julgar pelo que o presidenciável tucano conseguiu exibir na entrevista, sua presença no segundo turno está garantida apenas até certo ponto. O ponto de interrogação. (Via: Blog do Josias de Souza)

Blog: O Povo com a Notícia