A CNH (Carteira Nacional de Habilitação) vai mudar de
formato e de material em 2019. No lugar do papel-moeda entra o plástico, com mais
recursos antifraude. O processo de obtenção deve ser simplificado. Além das
alterações físicas, o governo pretende editar uma medida provisória que
aumentará o prazo de validade do documento. Na proposta que está sendo estudada
pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), os motoristas terão que fazer
exames médicos a cada cinco anos, sem que seja necessário pagar taxa,
apresentar documentação e tirar outra foto no Detran para receber a nova CNH, como acontece
hoje. Após o condutor completar 55 anos, a periodicidade dos exames cai para
dois anos e meio. A partir dos 70, passam a ser feitos anualmente. O motorista
deverá economizar R$ 53 a cada cinco anos, que é a soma das taxas atuais de
emissão e de entrega em domicílio do documento.
A nova regra só será possível
com a adoção de tecnologias de segurança. Conforme a resolução 718 do Contran (Conselho Nacional de
Trânsito), a nova carteira terá o formato de um cartão de crédito e
reunirá dados cadastrais do motorista tanto na parte impressa quanto na memória
digital. As informações poderão ser lidas por smartphones dotados de
aplicativos desenvolvidos para agentes de trânsito. Sérgio Yoshioka,
mestre em engenharia de computação e professor da Unisal, afirma que unir dados
biométricos e cadastrais que possam ser lidos digitalmente praticamente elimina
as possibilidades de fraude. O especialista diz que seria importante utilizar
tecnologia de leitura facial, a mesma já disponível em alguns celulares. Com
isso, não haveria a necessidade de apresentar o documento em uma blitz, por exemplo.
"Também será interessante incluir dados que podem ser utilizados em caso
de acidente, como o tipo sanguíneo e o número da carteira do SUS, informações
que, por ficarem descentralizadas, dificultam o socorro", diz Yoshioka.
A primeira medida para reduzir as
fraudes entrou em vigor em maio de 2017. Desde então, todas as CNHs emitidas no Brasil trazem QR
Code (código para leitura digital de
informações) com dados dos motoristas, mas ainda impressas em
papel-moeda. Há também versão digital. Esse código estará na carteira do professor de
geografia Carlos Augusto de Oliveira, 32. "Decidi só obter a CNH agora por
reunir três itens essenciais: dinheiro, tempo e interesse. Quando mais novo,
não tinha nenhum deles", diz Oliveira. Ele terá habilitação para moto e
carro, categorias A e B.
O professor afirma que, ao longo do processo iniciado em março, não recebeu nenhuma informação sobre como será a futura carteira, nem sobre a CNH digital. "Soube apenas pela mídia", conta. Em nota, o Detran-SP informa que "está analisando as medidas previstas na resolução 718 e os procedimentos necessários para adotá-las".
O Departamento Nacional de Trânsito diz que "as empresas [que produzirão as carteiras] serão previamente credenciadas e posteriormente habilitadas pelos Detrans, seguindo o mesmo modelo de negócio atual". Esse processo ainda não teve início. O cronograma publicado pelo Contran prevê que as novas carteiras sejam emitidas a partir de janeiro, mas são esperados atrasos. A adoção do QR Code, bem mais simples, só começou cinco meses após a data que constava na resolução. Já a medida provisória que modificará a forma de emissão deverá ser publicada antes das eleições, e é vista como uma tentativa de melhorar a popularidade do governo Michel Temer em sua reta final. O responsável pela proposta é o ministro das Cidades, Alexandre Baldy. Para Sérgio Yoshioka, as mudanças esbarram no desconhecimento de parte da população e obrigam que o documento físico continue a existir por muito tempo. "Nem todos são adeptos de tecnologia, embora haja mais celulares que habitantes no Brasil, e muitos não têm acesso a esses recursos", diz o professor. (Via: Folha PE)
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