A mãe de Francisca Edneide da
Cruz Santos, de 49 anos, uma das seis reféns mortas durante uma tentativa de
roubo a duas agências bancárias no município de Milagres, no Sul do Ceará,
afirmou que viu a filha morrer nos seus braços. Ela afirmou que foi mantida
refém pelos suspeitos dentro do carro junto com a família e que o disparo que
matou Edneide partiu do lado policial durante o tiroteio com os bandidos. A
Secretaria da Segurança Pública do Ceará afirmou que oito pessoas foram presas,
mas não comentou sobre a ação policial que terminou com a morte dos reféns.
No total, 14 pessoas morreram, sendo seis
reféns e oito são suspeitos de participação da quadrilha. A tentativa de roubo aconteceu na
madrugada de sexta-feira, no Centro de Milagres. De acordo com a
Secretaria de Segurança, cinco criminosos foram baleados nas proximidades das
agências e morreram. Outros dois suspeitos morreram no hospital e um oitavo
envolvido durante confronto com policias na cidade de Barro.
Até este sábado (8), a Perícia
Forense do Estado identificou oito mortos, sendo os seis
reféns e dois envolvidos. Dentre as vítimas também estavam cinco pessoas de uma
mesma família de Serra Talhada (PE) e um de uma família natural de Brejo Santo.
Dois corpos foram
velados em Serra Talhada e demais em São José do Belmonte.
A outra refém morta foi Edneide da Cruz, que foi atingida dentro do
carro em que estava junto com a mãe e os criminosos. A mãe da vítima relatou
que o filho dela e um dos bandidos afirmaram que o tiro que vitimou Edneide
partiu da polícia.
“Fiquei com a minha filha dentro do carro já
morrendo, com o sangue fervendo na goela, e eu pedindo socorro, gritando, mas
não apareceu ninguém. Quando meu menino se deitou no chão que a polícia começou
a chegar nele, ele disse ‘Vocês mataram minha irmã!’, e o policial fez assim ”,
disse agricultora Maria Larilda Rodrigues, replicando o gesto do agente de
segurança com as mãos na cabeça.
Três horas por ajuda
A agricultora disse que Edneide morava em São Paulo e aproveitou uma
licença do trabalho para vir ao Ceará e passar dois meses com os pais. A
família foi feita refém pelos bandidos após retornar do aeroporto. “Fomos
buscar ela no aeroporto, e no caminho de volta, perto de Brejo Santo, a gente
viu um caminhão atravessado na estrada, com um carro de cada lado da pista, e
um movimento daqueles moços mascarados. Aí pensei ‘Senhor, tá tendo um assalto,
tem misericórdia!", relembra a agricultora.
Segundo Maria Larilda,
os suspeitos pararam o carro, renderam e separaram os quatro membros da
família- pai, mãe e dois filhos- em dois veículos diferentes. A agricultora
seguiu com a filha e dois homens em uma caminhonete, enquanto o marido e o
filho ficaram no automóvel pertencente ao grupo de assaltantes.
Os dois os carros seguiram em direção à agência do Banco do Brasil de
Milagres. De acordo com Larilda, o suspeitos tentavam tranquilizar a família,
dizendo que “não queriam celular, dinheiro nem carro, nem maltratar”, apenas as
levariam “numa missão”.
“Os bandidos voltaram com a gente, já perto da
pista, e começou o tiroteio. Senti arder, tinha farelo de pólvora, mas não vi
que tinha pegado tiro na minha filha. Aí o bandido que tava do lado dela disse:
‘(A polícia) Quebrou minhas pernas e matou a mulher!’ Olhei pra ela e vi o
sangue descendo, o cabelo no rosto”, relatou a mulher.
De acordo com Larilda, após o tiroteio, os suspeitos correram para um
matagal, e o bandido que fez a filha de escudo pediu ajuda aos demais, que não
voltaram para buscá-lo. Ela conta ainda que passou mais de três horas pedindo
ajuda para a filha na beira da estrada.
“É muito difícil. Isso que você tá vendo em mim é a força de
Deus, porque você ver uma filha sua morrer em seus braços lavada de sangue e
passar até três horas na beira de uma pista pedindo socorro e não aparecer
ninguém”, relembrou.
O sepultamento de Francisca Edneide
ocorre em Brejo Santo, quando a família dela chegar de São Paulo. A mulher
deixou marido, dois filhos e uma neta.
Blog: O Povo com a Notícia
Via: G1 CE