Ausentes dos atos convocados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua, as militâncias do PT e do PSol tentam agora atrair siglas da centro direita para a próxima manifestação pró-impeachment, que acontecerá no dia 2 de outubro. Para cativar defensores de outras matizes ideológicas, o objetivo é manter o foco exclusivo no “Fora, Bolsonaro”, sem deixar que a defesa da candidatura do ex-presidente Lula (PT) domine as bandeiras.
A convocação para os atos, porém, testa a capacidade de
aglutinação da esquerda. Pressionados pelo eleitorado conservador, partidos de
centro direita ainda resistem a participar.
Nove siglas
de oposição — PT, PDT, PSol, PSB, PCdoB, PV, Rede, Solidaderiedade e Cidadania
— se reuniram na semana passada na Câmara dos Deputados e resolveram aderir ao
ato unificado pelo impeachment do presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) no primeiro domingo de outubro.
Movimentos sociais e organizações sindicais
também estão confirmados, e a organização busca agora adesão de outros
espectros políticos, mas, entre as siglas do campo da direita, há uma avaliação
de que os protestos de outubro já possuem a digital do PT.
Em setembro, os atos convocados pelo MBL
acabaram esvaziados depois que PT e PSol decidiram não participar formalmente
ao lado dos movimentos gestados no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff
(PT). A defesa do “Nem Lula nem Bolsonaro” foi um dos fatores que mais afastou
a militância petista.
O deputado Junior Bozzella (SP), vice-presidente do PSL, partido
que agora busca fusão com o DEM, avalia que tanto as legendas de esquerda
quanto as de direita precisam ter desprendimento. Ele é um dos parlamentares da
direita que pretende participar dos atos. “Sou a favor de uma discussão ampla,
eu acho que tem de ter desprendimento”, assinalou.
“Para um
processo de impeachment, tem de ter um desprendimento dos partidos de esquerda,
de direita. Acho que a gente está maturando, já esteve pior esta discussão”,
avaliou Bozzella.
Os parlamentares de siglas mais à direita e que são favoráveis
ao impeachment defendem que o mais confortável seria que os atos fossem
convocados por múltiplas lideranças, não apenas encabeçados pelo PT.
O ato
unificado do primeiro domingo do mês de outubro, organizado pela Frente Povo
Sem Medo, seria um ensaio geral para o do dia 15 de novembro, quando se
comemora a Proclamação da República.
A
manifestação de novembro possui organização mais difusa, com centralização na
entidade Direitos Já, cujo nome faz alusão ao Diretas Já. Alguns parlamentares
avaliam que, se a convocação partir de um grupo tido como isento, que é o caso
em tela, os protestos poderão atrair mais movimentos sociais e partidos
políticos e, consequentemente, ter mais sucesso.
Figuras
políticas, como o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), Guilherme
Boulos (PSol), defendem que os atos não virem palanque eleitoral. Boulos é pré-candidato ao governo paulista e deve
estar do lado do PT na disputa nacional em 2022, mas pondera que o fundamental
no momento é se unir em torno da pauta comum.
“Temos de
acabar com Bolsonaro antes que Bolsonaro acabe com o Brasil. É isso que está em
discussão hoje. Para isso, todos que são contra Bolsonaro são bem-vindos em
manifestações, desde que com foco na pauta do impeachment e da defesa da
democracia. Manifestação não é nem pode ser palanque eleitoral para 2022”,
disse Boulos ao Metrópoles.
“Se Bolsonaro
não sair da Presidência, podemos nem ter eleições em 2022 — e todos sabem
disso. O foco é o Fora Bolsonaro, não 2022”, frisou.
Frente ampla?
O PSDB ainda
não fechou questão sobre se marcará presença nos atos. Em coletiva de imprensa
em Brasília na última terça-feira (21/9), o presidente do partido, Bruno
Araújo, reforçou que grande parte da sigla resiste a participar de atos ao lado
do PT.
“Dentro do PSDB, apesar de não ter havido ainda essa discussão,
há majoritariamente uma grande parte refratária a participar de atos políticos
com o Partido dos Trabalhadores”, disse Araújo, citando a perpetuação da
pandemia no país e a preocupação com aglomerações.
Em outra
linha, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é presidente de honra do
partido, defendeu a presença do tucanato nas manifestações das siglas de
oposição.
“Não importa
quem convoque. Havendo uma convocação que seja possível de participar, dizer o
que pensa é bom”, disse FHC em entrevista ao jornal O Globo divulgada na quinta-feira (23/9).
“É bom que se crie uma frente ampla. Que haja diversidade de opiniões,
mas que sejam todas a favor da democracia. Eu não discrimino (o PT). O PT não é
intrinsicamente contra a democracia. Nunca foi. O governo do PT muitas vezes
dava a sensação de (ser). Mas não há um sentimento genuíno do PT de ser contra
a diversidade de opiniões”, pontuou o ex-presidente.
Com as
disputas eleitorais já batendo à porta, é tida como incerta a presença de nomes
que se vendem como terceira via para 2022 e que estiveram presentes nos atos de
12 de setembro, na Avenida Paulista.
Candidato nas
prévias do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, afirmou que
as manifestações são “absolutamente legítimas”, mas se esquivou de dizer se irá
ou não participar. Sustentou que, se o partido decidir compor os atos, será
preciso avaliar as condições de uma eventual ida.
O governador de São Paulo, João
Doria (PSDB), também presente nos atos do MBL, ainda não
indicou se tem disposição para participar das manifestações mais amplas.
Organizadores
dos protestos esvaziados de setembro e críticos ferrenhos do PT, MBL e o VPR
não devem participar dos protestos da oposição.
“Muito difícil [participar dos atos
convocados pelo PT]”, disse o deputado e cofundador do MBL, Kim Kataguiri
(DEM-SP). “Os blogueiros petistas nos chamaram de fascistas e até chegaram a
fazer acusações de estupro e de agressão contra membro do MBL. Não dá pra se
juntar com quem joga sujo assim, ainda mais sabendo que o interesse verdadeiro
do PT é deixar Bolsonaro sangrando até 2022.”
Depois de ter
criticado a ausência de petistas na Paulista em setembro, Ciro
Gomes (PDT) deve se fazer presente nos atos de outubro. Na
ocasião, o pedetista afirmou que “ainda há tempo para o PT amadurecer” e se
aliar com desafetos para conseguir tirar Jair Bolsonaro do Palácio do Planalto.
Já tendo dito que não concorrerá novamente à cadeira
presidencial, Marina Silva (Rede) não participou dos atos de setembro e ainda
não deixou claro se pretende estar nas próximas manifestações.
Outros nomes
que ainda não indicaram participação são os do ex-ministro de Bolsonaro Luiz
Henrique Mandetta (DEM), do senador Alessandro
Vieira (Cidadania-SE) e do empresário João
Amoêdo (Novo), que concorreu a presidente em 2018 e enfrenta
agora um imbróglio interno no partido que ajudou a fundar.
Termômetro do impeachment
Levantamento
do Metrópoles realizado
em setembro mostrou que o impeachment não tem votos suficientes para passar hoje no
Congresso.
“O povo na
rua pressiona os parlamentares, mesmo os de direita, a se posicionarem contra
Bolsonaro. Quando começamos os atos, lá atrás, ninguém imaginaria que hoje
Bolsonaro estaria tão enfraquecido. É uma construção gradual que dá resultado”,
avalia Boulos. (Via: Metrópoles)
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