O roubo de 320 armas armazenadas no depósito da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, no Recife, teve mais um desdobramento. A prefeitura de Ipojuca, no Grande Recife, confirmou, nesta segunda (13), que 120 pistolas de calibre ponto 40, avaliadas em mais de R$ 500 mil e que pertenciam ao patrimônio da cidade, estavam entre as armas levadas.
As armas foram incorporadas ao patrimônio de Ipojuca
após a doação feita pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 11 de maio de
2020. Ainda segundo a administração, essas pistolas estavam guardadas no
depósito da Polícia Civil, considerado de “extrema segurança”.
Elas seriam usadas pelos guardas municipais, após a
conclusão de todas as etapas de adequação do armamento da corporação, previsto
pela Polícia Federal.
O caso do roubo das armas da Core foi divulgado, pela
primeira vez, em janeiro deste ano. Em agosto, a Polícia Civil deflagrou a Operação
Reverso.
A ação cumpriu 22 mandados de busca e apreensão e investigou 18 suspeitos, que foram presos. Entre eles, estão cinco policiais, sendo quatro civis e um militar.
Segundo a corporação, esses
armamentos foram comercializados no mercado ilegal por uma organização
criminosa da qual os policiais faziam parte.
Entre os
policiais civis estão três comissários da Core e outro de uma unidade
administrativa da corporação.
Nesta segunda,
por meio de nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que “a subtração
de armas do Core foi devidamente investigada pela polícia.” O inquérito já foi
concluído e enviado para a Justiça.
Ainda na nota,
a SDS disse que, “além de investigar e punir com rigor, nos âmbitos criminal e
administrativo”, a Polícia Civil realizou um “amplo inventário de materiais
apreendidos” e adotou novos protocolos de segurança.
Também por nota, a Polícia Civil
informou que o inquérito e “seus anexos” estão em poder do Judiciário e do
Ministério Público de Pernambuco (MPPE).
Questionado
pelo G1, o Tribunal de Justiça de Pernambuco informou
que processo tramita em segredo de Justiça e que, por isso, não pode revelar
detalhes.
“Desse modo, a
nossa assessoria não tem como divulgar informações sobre seu trâmite, decisões,
julgamentos ou recursos, ficando o acesso aos dados processuais limitados
apenas às partes e aos seus advogados/representantes legais", informou o
comunicado do Judiciário.
Também questionado pelo G1, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) afirmou que enviou a
denúncia no dia 2 de setembro para 18ª Vara Criminal da Capital, “em desfavor
de 20 pessoas”.
Em nota, o MPPE disse que toda a toda a investigação ocorreu sob sigilo.
O MPPE não disse quais seriam os alvos do processo nem os motivos pelos quais
existem 20 pessoas apontadas no documento, enquanto a polícia declarou que
foram presas 18 pessoas.
Ipojuca
Em maio de 2020, a prefeitura de Ipojuca publicou no site
oficial material sobre a doação das 120 pistolas, em
convênio com a PRF.
Segundo o município, eram armamentos da marca Taurus, do “mesmo modelo
utilizado pela Polícia Militar de Pernambuco”, e que seriam “usados pela Guarda
Municipal de Ipojuca na proteção e segurança da população e do patrimônio da
cidade”.
No dia da solenidade, o secretário de Segurança Urbana da cidade,
Oswaldo Moraes, disse que, depois da doação, seria necessário cumprir mais
etapas do processo para armar a guarda, de fato.
No texto publicado no site, o secretário disse que seria necessária, por
exemplo, a assinatura do termo de cooperação técnica com a Polícia Federal.
Naquele momento, informou a prefeitura, os guardas teriam que ser
treinados para usar aquelas armas doadas pela PRF. O efetivo da corporação
municipal tinha, então, 436 homens.
Nesta segunda (13), o secretário Oswaldo Moraes afirmou ao G1, por telefone, que as armas doadas pela PRF e que
foram roubadas da Core faziam parte do patrimônio do município, de fato, mas
nunca foram entregues para serem usadas realmente.
Segundo ele, o município optou por armazenar os armamentos no depósito,
enquanto não construída a sua armaria, conforme as regras da Polícia Federal.
“Seguimos todos os trâmites previstos pela Polícia Federal. O problema é
que a lei mudou nesse período. Assim, todas as vezes que a gente se adequava,
surgiam novas exigências. Deixamos as armas no depósito da Core, por causa da
segurança”, afirmou.
Segundo o secretário, agora, a
prefeitura está adotando procedimentos administrativos para demonstrar que os
armamentos estavam guardados no depósito da polícia e que não podem mais fazer
parte oficialmente do patrimônio municipal.
“É uma
organização criminosa trabalhando para outras organizações. Não tinha como
prever um caso como esse”, declarou.
Operação
Os detalhes da Operação Reverso foram divulgados em entrevista
coletiva concedida pela cúpula da Polícia Civil, em 12 de agosto
deste ano.
Segundo a
polícia, espingardas, revólveres, pistolas e submetralhadoras levadas do
depósito da Core eram “oferecidas” no mercado e quem colocasse o melhor preço
ficava com elas.
Na Polícia
Civil, a Core é responsável por dar apoio operacional a delegacias, proteger
autoridades ameaçadas e oferecer treinamento a policiais para o uso de armas.
Outra função é a guarda de armamento usado pelos policiais ou apreendido com
criminosos.
A ação investigou
crimes de peculato (desvio de dinheiro público), corrupção e comércio ilegal de
arma de fogo, além de formação de organização criminosa. A Justiça também
determinou o bloqueio de bens das pessoas envolvidas no esquema criminoso. (Na íntegra a matéria do G1 PE)
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