Em meio a uma série de críticas de apoiadores por causa da divulgação da nota de um dia antes em que busca esfriar os ataques ao STF, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (10) que não recuou de nada e que jamais cometeu um erro.
Bolsonaro afirmou ainda que há cobranças para reações imediatas, "que vá lá e degole todo mundo", e defendeu mudanças graduais no Brasil.
O presidente está sendo questionado por ter
aliviado o discurso golpista, ainda que provisoriamente, e ter pedido a
desmobilização de manifestações de caminhoneiros que bloqueiam estradas.
"Alguns querem que vá lá e degole todo mundo. Hoje em dia não existe
país isolado, todo mundo está integrado ao mundo", disse o presidente
nesta sexta-feira (10) a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. A
declaração foi divulgada por canal bolsonarista no Youtube.
Na quinta-feira (9), dois dias após atacar o STF (Supremo Tribunal
Federal) com ameaças golpistas em atos no 7 de Setembro, o presidente disse, na
nota, que não teve "nenhuma intenção de agredir quaisquer dos
Poderes" e atribui palavras "contudentes" ao "calor do
momento".
O ex-presidente Michel Temer (MDB) participou da elaboração da nota.
Questionado por um apoiador se o "acordo" para aliviar os
ataques inclui a soltura do deputado preso Daniel Silveira (PSL-RJ), o
presidente disse que não pode entrar em detalhes sobre as conversas que levaram
à elaboração da nota.
"Tem coisas que não posso falar com você. Tem certas coisas que você
confia ou não confia", disse o presidente. "Posso um dia errar. Até o
momento não errei", completou.
Ainda em frente ao Alvorada, outro apoiador pediu ao presidente para
trocar o "povo da toga". "[Quem for eleito presidente em 2022]
tem duas vagas [no STF] para início de 2023. Há certos povos que esperam 100
anos para atingir seu objetivo. Tem uns que querem em um dia. Está indo
devagar, está indo", disse
O presidente também declarou que os caminhoneiros devem manter
manifestações até domingo (12).
"As consequências de uma paralisação são gravíssimas para todo mundo.
Você quando quer, por exemplo, matar berne e mata a vaca. Até domingo, se o
pessoal ficar parado, vai sentir, vai ter reflexo, mas se passar disso,
complica a economia do Brasil", afirmou Bolsonaro.
"Ninguém está recuando. Não pode ir pro tudo ou nada. Arrumar o
Brasil devagar. Vai arrumando."
Nas redes sociais, apoiadores contumazes de Bolsonaro lamentaram a nota,
enquanto outros estavam desnorteados em grupos de aplicativos de mensagem.
Aliados de Bolsonaro ainda tentam passar a ideia de que a nota é parte de
uma estratégia bem bolada para esvaziar as acusações de golpismo contra o
presidente.
O ministro da SGRP (Secretaria-Geral da Presidência), general da reserva
Luiz Eduardo Ramos, afirmou nesta sexta-feira (10) no Twitter que
"surpreende" ver "muitos caírem no novo discurso opositor de
ofensa" a Bolsonaro. "Tenham paciência, pois, mais uma vez, o tempo
irá consolidar a verdade", escreveu o militar.
Já o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos-BA) escreveu nas redes
que a nota "esvaziou a narrativa e reafirmou compromisso com a
democracia".
"Achei que a nota foi oportuna, pacificadora, e o Brasil tá
precisando de uma pacificação. Que a governabilidade possa acontecer com maior
segurança", diz o apóstolo César Augusto, um de seus escudeiros na base
evangélica.
"Acredito muito no presidente, muito. Ele tem todo o meu apoio para o
que fez. Nós vamos ver frutos dessa pacificação no futuro, com certeza",
afirma o líder da igreja Fonte da Vida, um dos pastores que ficou ao lado do
presidente no trio elétrico no ato bolsonarista de 7 de Setembro em São Paulo.
Aos apoiadores Bolsonaro também disse nesta sexta-feira (10) que
"alguns querem imediatismo". "A gente vai acertando. O acúmulo
de lixo, problema, tem 30, 40 anos. Está ganhando, está ganhando."
No 7 de Setembro, ao escalar mais uma vez a crise institucional no país em
manifestações em que ameaçou o STF e disse que não cumprirá mais ordens
judiciais do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro cometeu crimes de
responsabilidade que podem levar à abertura de processos de impeachment,
segundo especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo.
Além dos crimes de responsabilidade, que possuem caráter político e
jurídico, o presidente pode ter cometido também crimes comuns, ilícitos
eleitorais e ato de improbidade administrativa, na avaliação de parte dos
entrevistados.
O STF analisa atualmente cinco inquéritos que miram o presidente Jair
Bolsonaro, seus filhos ou apoiadores na área criminal. Já no TSE tramitam
outras duas apurações que envolvem o chefe do Executivo.
Apesar de a maioria estar em curso há mais de um ano, essas investigações
foram impulsionadas nas últimas semanas após a escalada nos ataques golpistas
do chefe do Executivo a ministros das duas cortes e a uma série de acusações
sem provas de fraude nas eleições. (Via: Folhapres)
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