O ex-ministro e ex-juiz federal Sergio Moro revelou, durante transmissão ao vivo nas redes sociais, nesta sexta-feira, que recebeu US$ 45 mil por mês — o equivalente a R$ 242,5 mil, na cotação atual — pelo trabalho prestado para a consultoria internacional Alvarez & Marsal, onde trabalhou durante cerca de um ano, entre novembro de 2020 e outubro de 2021, nos Estados Unidos. No total, ele recebeu cerca de R$ 3,5 milhões.
Na live, Moro contou que ganhou, além dos US$ 45 mil mensais,
um bônus de US$ 150 mil, o que equivale a cerca de R$ 800 mil. Dessa quantia,
ele disse que devolveu R$ 67 mil em outubro do ano passado por ter encerrado o
trabalho antes do tempo previsto por sua pré-candidatura à presidência no
Brasil.
Ele expôs recibos com os valores que recebeu e disse que
todas as quantias foram declaradas. Os valores foram pagos ao ex-ministro
através de uma empresa em seu nome, a Moro Consultoria.
— Não tem nada de errado no que eu fiz, mas vamos aqui ser
transparentes para iniciar uma nova era em que todos revelem os fatos. Esse
processo do TCU é um abuso, o TCU serve para investigar a administração
pública, e não um contrato da iniciativa privada. Mas, tudo bem, eu vou
revelar, espero que todos façam o mesmo, afirmou Moro, antes de revelar as
quantias.
Ele fez menção ao processo no Tribunal de Contas da União que
apura se houve conflito de interesse na sua contratação pela empresa, que
também atuou na recuperação judicial do grupo Odebrecht e da OAS, alvos da
Operação Lava Jato.
Em outros momentos da live, Moro provocou adversários
políticos. Ele disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria
expor os valores recebidos por palestras feitas pelo petista no passado.
O próprio Moro, no entanto, determinou a quebra de sigilo
fiscal da empresa LILS Palestras, que pertence ao ex-presidente Lula, em 2016.
Em 2020, a juíza Gabriela Hardt reconheceu a legalidade das palestras.
Moro também afirmou que o presidente Jair Bolsonaro deve
abrir as “contas da rachadinha” do período em que atuou como deputado federal e
também de seus filhos.
— Se exigiram de mim ser transparente, que o Lula e o Bolsonaro
sejam transparentes também, em rachadinha, em gabinete, em conta do sítio de
Atibaia e as contas das palestras recebidas pelo Lula. Vamos abrir a campanha
‘abre as contas Bolso-Lula, declarou.
Moro disse que os cheques depositados pelo ex-assessor Fabrício
Queiroz para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, eram destinados ao presidente
Jair Bolsonaro. Na época em que o depósitos foram revelados, Moro era ministro
da Justiça de Bolsonaro.
— Vamos ouvir esclarecimentos sobre aqueles cheques, que não
são da primeira-dama, são dele (Bolsonaro) mesmo. A questão da esposa é coisa
dele. Vamos abrir essas contas e revelar quem rachou dinheiro dentro das contas
da família Bolsonaro, afirmou.
O ex-juiz, que alega não ter enriquecido na vida pública ou
privada, reconhece que recebeu um “salário bom” para os padrões dos Estados
Unidos e para função que ocupava, mas disse que está “longe de ter enriquecido”
com o trabalho.
— Para evitar qualquer confusão eu pedi para colocar uma
cláusula dizendo especificamente que eu não prestaria nenhum serviço para
empresa envolvida na Lava Jato. Está no contrato, dito expressamente,
acrescentou Moro.
O trecho mencionado por ele e lido em voz alta pelo deputado
Kim Kataguiri, que acompanhou Moro durante toda a transmissão, cita
nominalmente a Odebrecht como uma das empresas vetadas para sua atuação.
Os documentos apresentados por Moro foram disponibilizados
por ele nas redes sociais.
De acordo com pessoas próximas, o ex-ministro estava inseguro
em fazer uma live e preferia divulgar apenas uma gravação. Foi Kim um dos
responsáveis por convencê-lo a fazer a revelação ao vivo com o intuito de
garantir mais credibilidade.
Em diversos momentos, Kim tentou equiparar os valores
recebidos por Moro a outros salários. Ele mencionou como exemplo o ex-ministro
da Educação Abraham Weintraub, indicado por Bolsonaro para vaga no Banco
Mundial, cujo salário é de cerca de R$ 115 mil mensais.
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