O Brasil será governado por uma mulher por mais quatro anos mas, nos estados, a narrativa não se repetiu. Em 25 estados e Distrito Federal, homens foram eleitos para o executivo. Isolada nas estatísticas, apenas uma mulher venceu uma disputa estadual: Suely Campos (PP), eleita neste domingo a primeira governadora da história de Roraima. Com uma vitória de 54,88% contra os 45,12% obtidos pelo atual governador, Chico Rodrigues (PSB), seu adversário no segundo turno, Suely foi uma candidata tardia, e deve ter uma “sombra” ao lado até o fim do mandato: seu marido, o o ex-governador e empresário Neudo Campos (PP).
A governadora eleita entrou na disputa após Neudo, que liderava as pesquisas de intenção de voto, desistir da candidatura depois de ter seu registro negado duas vezes pelo Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR). Ele foi considerado “ficha suja” pelos critérios da Lei da Ficha Limpa, por pesar contra ele uma condenação por crime contra a administração pública pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região e pela rejeição de contas do Tribunal de Contas da União (TCU). O anúncio foi feito no dia 12 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno eleitoral. Na ocasião, Neudo afirmou que seria “uma sombra da mulher”.
— Tive de deixar a candidatura e escolhi colocar a minha esposa, pois confio nela e nós seguiremos juntos na disputa eleitoral — disse o político ao portal G1, na ocasião.
Neudo, que administrou o estado por dois mandatos, em 1994 e 1998, foi preso em 2003 na Operação Gafanhoto. Ele foi acusado de liderar um esquema para criar folhas falsas de pagamento, que usava 5.500 funcionários fantasmas, os “gafanhotos”, para o enriquecimento de 30 autoridades do Estado, entre elas ex-parlamentares, atuais deputados estaduais e federais e conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. O esquema pode ter desviado mais de R$ 230 milhões dos cofres públicos em Roraima. Em 2002, tentou eleição para o Senado pelo (PFL) e, em 2006, ganhou um mandato de deputado federal pelo PP.
No currículo de Suely, por sua vez, também constam episódios de corrupção: quando primeira-dama de Roraima, ela se envolveu em escândalos do governo. O Tribunal de Contas do Estado abriu processo para apurar compras mensais consideradas exageradas para a residência oficial, tais como 70 quilos de filé mignon, 30 quilos de camarão, 30 quilos de bacalhau, entre outras iguarias. A investigação apurou que parte dos produtos era desviada para um restaurante de familiares de Suely e revendida. Ela negou, alegando que os alimentos eram doados pela residência oficial a desabrigados. Aos 61 anos, Suely é mãe de quatro filhos e casada há 41 anos Neudo Campos. Nas duas ocasiões em que o marido ocupou o cargo de governador, em 1997 e 2002, foi secretária do Bem-Estar Social do estado. Em 2003, foi eleita deputada federal por Roraima.
A governadora eleita, que se declarou empresária ao TSE, foi ainda vice-prefeita de Boa Vista, entre 2009 e 2012. A atuação na prefeitura, no entanto, foi considerada discreta. Com PTB e DEM em sua coligação, Suely previu ao TSE gastos de R$ 2 milhões em sua campanha. O único bem que consta em sua declaração é um trator no valor de R$ 114 mil. Na última eleição que disputou, para a vice-prefeitura de Boa Vista em 2008, Suely havia declarado ter mais: R$ 173,9 mil, incluindo duas cotas de participação em empresas de Neudo, uma imobiliária e uma empresa de engenharia).
No discurso após a vitória, Suely falou em implementar políticas públicas “para mulheres, para os jovens, crianças, para a família”. E disse que, por ser a primeira mulher eleita para o cargo, foi uma eleição “histórica”:
— Eu estou cheia de muita energia, de muita vontade, na reconstrução do meu estado — afirmou. (O Globo)
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