Após a grande repercussão da matéria da revista Época com a esposa do
deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o Conselho Editorial do Grupo
Globo diz tomou “decisão editorial equivocada” e pediu desculpas a Heloísa Bolsonaro
e aos leitores pelo “erro” na produção da reportagem. Nela, o repórter João
Paulo Saconi se passou por um cliente do coaching online de Heloísa, que é
psicóloga. Ao final de cinco sessões, ele se identificou como jornalista e
informou que havia registrado todo o curso, questionado se a esposa do
parlamentar gostaria de se pronunciar até a publicação da matéria.
Intitulada “O coaching online de Heloísa Bolsonaro: as lições que podem
ajudar Eduardo a ser embaixador”, a matéria foi publicada na última sexta-feira
(13) e foi duramente criticada pela psicóloga, por Eduardo Bolsonaro, além do
presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seus apoiadores. Eduardo ameaçou, em
publicação no Twitter, processar o repórter, o editor-chefe e a diretora de
redação da revista.
Vamos processar o
repórter da Época/Globo @JoaoSaconi o editor-chefe @pfraga e a diretora de redação @dpinheiro_press .
Da próxima vez que a Época falar besteira tem que lembrar “ah, aquela revista que fez covardia com a nora do Bolsonaro”… Credibilidade zero.
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷
(@BolsonaroSP) September 16, 2019
Em nota divulgada na noite dessa segunda-feira (16), o Conselho
Editorial do Grupo Globo diz que “o erro da revista foi tomar Heloisa Bolsonaro
como pessoa pública ao participar de seu coaching on-line”. “Heloisa leva,
porém, uma vida discreta, não participa de atividades públicas e desempenha sua
profissão de acordo com a lei. Não pode, portanto, ser considerada uma figura
pública. Foi um erro de interpretação que só com a repercussão negativa da
reportagem se tornou evidente para a revista”, afirma trecho da nota.
O presidente Bolsonaro também reagiu nas redes sociais. Segundo ele, o
que, nas sessões, “deveria ficar apenas entre os dois, por questão de
ética, agora vem a público”.
IMPRENSA SEM LIMITES:
sem se identificar, o jornalista João Paulo Saconi, Época / Globo, se passou
por gay e fez sessões com minha nora Heloísa (psicóloga, esposa do Eduardo) e
gravou tudo. O deveria ficar apenas entre os dois, por questão de ética, agora
vem a público. pic.twitter.com/aWzxxcCcJk
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) September 13, 2019
Confira a nota na íntegra:
“Como toda atividade humana, o jornalismo não é imune a erros. Os
controles existem, são eficientes na maior parte das vezes, mas há casos em que
uma sucessão de eventos na cadeia que vai da pauta à publicação de uma
reportagem produz um equívoco.
É certo que em sua seção II, item 2, letra “h”, está dito: “A
privacidade das pessoas será respeitada, especialmente em seu lar e em seu
lugar de trabalho. A menos que esteja agindo contra a lei, ninguém será
obrigado a participar de reportagens”. A letra “i” da mesma seção abre a
seguinte exceção: “Pessoas públicas – celebridades, artistas, políticos,
autoridades religiosas, servidores públicos em cargos de direção, atletas e
líderes empresariais, entre outros – por definição abdicam em larga medida de
seu direito à privacidade. Além disso, aspectos de suas vidas privadas podem
ser relevantes para o julgamento de suas vidas públicas e para a definição de
suas personalidades e estilos de vida e, por isso, merecem atenção. Cada caso é
um caso, e a decisão a respeito, como sempre, deve ser tomada após reflexão, de
preferência que envolva o maior número possível de pessoas”.
O erro da revista foi tomar Heloisa Bolsonaro como pessoa pública ao
participar de seu coaching on-line. Heloisa leva, porém, uma vida discreta, não
participa de atividades públicas e desempenha sua profissão de acordo com a
lei. Não pode, portanto, ser considerada uma figura pública. Foi um erro de
interpretação que só com a repercussão negativa da reportagem se tornou
evidente para a revista.
Em sua seção 1, item 1, letra “r”, os Princípios Editoriais do Grupo
Globo determinam: “Quando uma decisão editorial provocar questionamentos
relevantes, abrangentes e legítimos, os motivos que levaram a tal decisão devem
ser esclarecidos”. E o preâmbulo da mesma seção estabelece com clareza: “Não
há fórmula, e nem jamais haverá, que torne o jornalismo imune a erros. Quando
eles acontecem, é obrigação do veículo corrigi-los de maneira transparente”.
É ao que visa esta Carta aos Leitores. Explicar o que levou à decisão
editorial equivocada, reconhecer publicamente o erro e pedir desculpas a
Heloisa Bolsonaro e aos leitores de ÉPOCA.”
Blog: O Povo com a Notícia