Pelo menos 75 das 102
universidades e institutos federais do País convocaram protestos para esta
quarta-feira (15) em resposta ao bloqueio de 30% dos orçamentos determinado
pelo Ministério da Educação (MEC). Eles terão apoio de universidades públicas
estaduais de diversos Estados – incluindo São Paulo, onde os reitores de USP,
Unicamp e Unesp convocaram docentes e alunos para “debater” os rumos da área.
Um dos alvos do protesto, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse
nesta terça-feira (14), que as universidades precisam deixar de ser tratadas
como “torres de marfim” e não descartou novos contingenciamentos.
Cientistas e pesquisadores de diversas instituições e
estudantes de faculdades privadas também vão aos protestos convocados. É o
caso, por exemplo, de PUC-SP e Mackenzie. Além da comunidade do ensino
superior, a rede básica também aderiu à paralisação. Pelo menos 33 dos
principais colégios particulares de São Paulo vão integrar o movimento, apesar
da federação nacional das escolas sugerir corte de ponto de funcionários
faltosos. A Apeoesp, sindicato dos professores da rede estadual pública de São
Paulo, o maior da América Latina, convocou os professores a paralisarem – o
mesmo foi feito pelos sindicatos da rede paulistana.
Atos em todos os Estados vêm sendo chamados pelas maiores
entidades estudantis e sindicais do País, incluindo a União Nacional dos
Estudantes (UNE) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
(CNTE). Em Brasília, o prédio do MEC já amanheceu nesta terça-feira cercado por
homens da Força Nacional de Segurança Pública. O secretário executivo da pasta,
Antoni Paulo Vogel, afirmou que a proteção foi pedida pelo governo federal.
“Temos de estar preparados para evitar qualquer tipo de problema. Simples
assim.”
Balbúrdia’ do ministro virou inspiração nas faculdades
O ministro da Educação Abraham Weintraub ressuscitou a
balbúrdia, a palavra. O termo que já saiu da boca de personagens
shakespearianos e outros clássicos, e andava meio esquecido no meio de tanta
“confusão”, “alvoroço”, “escarcéu” e “zoeira”, ganhou força ao ser usado como
uma das justificativas para o corte de recursos das federais. “Universidades
que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo
balbúrdia, terão verbas reduzidas”, disse o ministro em entrevista ao jornal O
Estado de S. Paulo no dia 30. Declaração essa que, claro, causou “alarido”.
Tão logo a “balbúrdia” foi ganhando o noticiário, os alunos
das universidades federais trataram de reinterpretá-la. Assim, instituições
como a UnB (Universidade de Brasília), a UFPE (Universidade Federal de
Pernambuco), a UFPR (Universidade Federal do Paraná), a UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e
muitas outras criaram perfis no Instagram batizados de “balbúrdia” (e mais a
sigla da instituição, como @balburdiaufrj ou @balburdiaufpe).
Autonomia e custos
O ministro Weintraub afirmou na terça ser favorável até à
entrada da polícia nas universidades. “Autonomia universitária não é
soberania”, disse, durante café da manhã com jornalistas. Ele argumentou que,
no passado, a regra pode ter feito sentido, “mas atualmente é dispensável”. Ele
destacou ainda que a autonomia das instituições deve se dar também na área
financeira, com a criação de mecanismos que permitam a busca de recursos e patrocínios.
“Hoje elas não podem .. Não estou falando em cobrar, sou contra cobrar dos
alunos de graduação.” Mas, emendou, “o ideal seria a criação de mecanismos para
que empresas se tornem patronas de instituições, possam construir prédios,
colocar nomes nas novas instalações”, disse. “Essas torres de marfim que a
gente criou impedem que renda possa ser gerada para ser usada na pesquisa.”
O ministro se esquivou de fazer comentários sobre a greve,
mas condicionou a liberação dos recursos bloqueados à aprovação da reforma da
Previdência e não descartou novos cortes. Weintraub procurou ainda reduzir a
importância do bloqueio sofrido pela pasta que lidera, citando outros
ministérios que tiveram contingenciamentos maiores, como a Defesa.
O ministro disse ter recebido 50 reitores desde que assumiu
e, de acordo com os relatos, a conta das universidades está em dia e “a vida
segue normal”. Ele reiterou que o bloqueio só deve ser sentido no segundo
semestre. “Se tiver algum problema, vou até o Ministério da Economia, para
abrir exceção.” À tarde, em entrevista à Rádio Jovem Pan, Weintraub voltou a
negar o contingenciamento de 30% – anunciado pelo próprio MEC. “Mostrem os
números. Parem de mentir. Estamos contingenciando 3,5%.”
Pela manhã, ele havia sido dramático ao falar sobre seu curto
período à frente do Ministério da Educação. Transcorridos menos de dois meses
da sua posse, ele se queixa de perseguição. “Estou sendo caçado com taco de
beisebol e machadinha. O inimigo número 1 de tudo”, disse. “Estou sendo moído.”
Justiça
A juíza Renata Almeida de Moura Isaac, titular da 7.ª Vara
Cível de Salvador, solicitou que a União justifique, em até cinco dias, cada um
dos bloqueios orçamentários que impôs às instituições de ensino superior no
País. O pedido é consequência da ação popular impetrada pelo deputado federal
Jorge Solla (PT-BA), no dia 30 de abril, que pediu a “anulação imediata” dos
cortes, sob alegação de que o ministro Abraham Weintraub (Educação) atribuiu
publicamente a decisão à uma reprimenda às instituições que “promoviam
balbúrdia”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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