Após o Metrópoles revelar, com exclusividade, a abertura de uma investigação contra o padre Delson Zacarias dos Santos (foto em destaque), em junho deste ano, acusado de abuso sexual e estupro de vulnerável, um ex-secretário do religioso revelou à reportagem ter sido masturbado pelo sacerdote há cerca de sete anos.
A vítima relata lembrar-se apenas de fleches do momento, que
aconteceu entre 2014 e 2015, na paróquia São Mateus, em Sobradinho, comunidade
que Delson Zacarias comandou de 2013 a 2018. “Um dia eu subi para a casa
paroquial, ele estava comendo e depois sentou na sala para assistir televisão,
estava tudo escuro”, relembra.
Na ocasião,
assim como em relatos anteriores, o religioso demonstrou interesse no órgão
genital do rapaz, à época, com 18 anos, e instigou conversas de cunho sexual.
“Ele perguntou se eu achava que conseguiria satisfazer uma
mulher e se eu me masturbava, aí eu falei que sim para os dois”, declara. Em
seguida, o padre pediu uma prova de que aquilo era verdade e convenceu o jovem
a abaixar as calças. Na sequência, começou a tocar o pênis do rapaz com o
intuito de excitá-lo. “Tentou me masturbar, mas não fiquei excitado. Ele parou
e agiu como se nada tivesse acontecido”.
“Fiquei quieto, incrédulo, atônito e sem acreditar no que
estava acontecendo”, lamenta o ex-funcionário da igreja.
Além de
Sobradinho, o sacerdote acumula passagens por paróquias no Riacho Fundo I e
Lago Sul. Ele também ministrou aulas no seminário de Brasília e na Faculdade de
Teologia (Fateo).
Segundo apurado pela reportagem, a suspeita é
de que pelo menos oito pessoas sofreram com investidas do religioso. Entre elas, seis, incluindo o ex-funcionário, já foram
ouvidas pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), onde a investigação corre em sigilo por envolver menores de idade. Dessa forma, as informações sobre o caso não
podem ser divulgadas pela polícia.
Pedido
de desligamento
Um processo
de investigação também foi aberto pela Arquidiocese
de Brasília, que resultou, em um primeiro momento, no afastamento de
suas funções. Com o avanço da apuração, um documento foi enviado ao Vaticano
com as informações levantadas pela igreja, anexado de uma carta onde o
religioso renuncia ao cargo de sacerdote.
A informação
foi confirmada à reportagem por uma fonte que acompanha a investigação prévia
aberta pela Arquidiocese. A decisão de renúncia é prevista no Código do Direito
Canônico, um conjunto de normas que orientam a disciplina eclesiástica,
hierarquia administrativa, direitos e deveres dos fiéis, além de possíveis
sanções por transgressão de normas para os católicos.
Segundo o documento, qualquer pessoa no uso da
razão pode, por justa causa, renunciar ao ofício eclesiástico. “Cân.189 — § 1.
Para ser válida, a renúncia, quer necessite de aceitação, quer não, deve ser
apresentada, por escrito, ou oralmente perante duas testemunhas, à autoridade
competente para prover o ofício de que se trata”, diz um dos artigos.
Estupro
de vulnerável
A violência
sexual praticada contra um dos jovens – que não terá a identidade revelada –
iniciou-se quando a vítima tinha apenas 13 anos.
A investida
do religioso teria começado na casa paroquial, antes de um casamento, em 2014:
“Você se masturba ou assiste pornografia?”, questionou o padre ao então
adolescente. O jovem respondeu que não, mas o sacerdote insistiu no assédio.
Na ocasião, o
religioso pediu que o jovem se levantasse e abaixasse as calças. O suspeito
queria ver o órgão genital do rapaz. “Eu resisti e ele me disse para não ter
medo, que ele não faria nada. Nesse momento fiquei assustado, mas confiei.
Abaixei as calças e ele tocou no meu pênis”, conta.
Doce
de banana
Após a
publicação da reportagem uma nova vítima contou os momentos de pânico vividos
durante as investidas do pároco. O relato aponta que o religioso usava a
desculpa de oferecer “doce de banana” para atrair coroinhas que integravam um
grupo ao qual ele mantinha proximidade.
De acordo com o servidor público, que atualmente tem 31 anos, o
assédio ocorreu quando ele tinha entre 14 e 15 anos, durante o tempo em que
frequentava a igreja no Riacho Fundo, pela qual o padre era responsável à
época. A vítima narra que o líder religioso passou a se tornar mais próximo
quando ele foi escolhido para ingressar um grupo chamado Cerimoniários, em que
só havia participantes do sexo masculino com idades até 18 anos.
Durante uma noite, em 2004, o padre passou de carro na
frente da casa do então adolescente. Ele buzinou e fez o convite. “Minha mãe,
que é muito católica e frequentava aquela igreja, avisou que o padre Zacarias
estava me chamando. Quando cheguei do lado de fora, ele me falou para entrar
que iríamos até a casa dele pegar um doce de banana que ele havia feito para
minha mãe”, lembrou.
Chegando à
casa do pároco, a atitude dele mudou, segundo a vítima. O religioso o chamou
para o quarto e fez uma pergunta direta. “Ele quis saber se eu tinha o costume
de me masturbar. Respondi que sim, achando que ele fosse me corrigir. Depois,
pediu que eu tirasse a blusa, pois queria ver se eu era magrinho. Em seguida,
pediu para ver minhas ‘coxinhas’. Naquele momento, o padre foi além e pediu
para que eu tirasse o short”, contou.
O pároco, então, pegou uma câmera digital, afirmando que faria
algumas fotos do adolescente. “Ele pediu para que eu ficasse de cueca. Naquele
momento, fiquei com o corpo todo tremendo, mas tive a reação de dizer que
queria ir embora. Ele, então, me levou de volta, sem dizer uma palavra durante
o trajeto até a minha casa”, recordou.
Masturbação
dentro da igreja
De volta à
São Mateus, um jovem foi masturbado pelo pároco dentro da igreja, no dia do
aniversário da vítima. Em um vídeo cedido à reportagem pela vítima, ela revela
que o abuso aconteceu dentro da paróquia São Mateus, em Sobradinho, comunidade
que Delson Zacarias comandou entre os anos de 2013 e 2018.
Hoje, com 26
anos, a vítima relembra o ocorrido de 18 anos atrás: “Nesse dia, a gente saiu
para comer pizza, tinham outros rapazes com a gente”. Após a comemoração, o
rapaz ficou a sós com o líder religioso. “Ficou combinado de o padre me levar
para casa.”
Na ocasião,
assim como em relatos anteriores, o sacerdote demonstrou interesse no órgão
genital do rapaz. “Ele começou a falar do tamanho do pênis de um dos jovens que
estava lá, que parecia ser grande, que dava volume na roupa, essas coisas”,
conta. “Perguntou se o meu era como o dele e pediu para ver.”
“Achei muito estranho, fiquei assustado, neguei diversas vezes,
mas ele insistiu”, diz. Mesmo com a negativa, o padre prosseguiu e começou a
tocá-lo. “Ele colocou a mão no meu pênis e começou a masturbar, querendo ver
como ele ficaria duro.”
Assista o depoimento na íntegra: