Ao fazer uma varredura em parte do banco de dados de 24 milhões de eleitores que já fizeram o chamado recadastramento biométrico –o sistema de identificação de votantes pela impressão digital– o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) encontrou 2.590 casos de duplicidade de digitais. São 2.590 pessoas registradas como eleitores em duas ou mais seções eleitorais. Em tese, cada uma teria condições de votar mais de uma vez na mesma eleição sem que isso seja notado pelos mesários. Em vários casos, os indícios são de falsidade ideológica e tentativa de fraude eleitoral. Ocorrências assim, inéditas no sistema eleitoral, foram encontradas em diversos Estados. Goiás tem o maior concentração. Amazonas e Alagoas também se destacam. Há constatações de digital registrada em até dez diferentes seções. O recordista é um eleitor com a digital em mais de 20 cartórios. Estava apto para votar mais de 20 vezes. A Polícia Federal foi chamada para investigar. Sem dar todos os detalhes da varredura – ainda em andamento – o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro João Otávio Noronha, e secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, confirmaram as informações para a Folha.
O TSE adotou dois procedimentos para lidar com as duplicidades. Nas situações em que foi encontrada digital repetida em duas localidades, só o registro mais recente foi cancelado. É uma medida de precaução, diz Noronha, já que, em alguns casos, não está descartada a hipótese de erro operacional do cartório no recadastramento. Já nas ocorrências de digital repetida em várias seções, todos os registros foram cancelados. "Esses casos certamente são de má-fé", afirma, sem quantificar. "Não votam nessa eleição." Noronha e Janino não souberam dizer quantos inscritos em mais de uma seção votaram mais de uma vez em eleições anteriores. Para o corregedor, porém, a escala de problemas identificados não representa risco. "Não tem possibilidade de ter influenciado [os resultados de] eleições passadas", diz. "São 2.590 casos distribuídos pelo Brasil todo. E também num universo de quase 16 milhões de recadastrados [já checados]. É ínfimo, praticamente." Noronha admite, porém, que duplicidades também devem existir com os demais 119 milhões de eleitores do sistema convencional, sem biometria. "Não dá para comparar nem para estimar o que tem de erro ou fraude [no sistema não biométrico]", diz Janino. (Folha)
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