A Procuradoria-Geral da República
(PGR) denunciou o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) por lavagem de
dinheiro e corrupção passiva.
A acusação encaminhada ao STF (Supremo Tribunal Federal) na semana passada
afirma que o parlamentar recebeu R$ 65 milhões em propina das empreiteiras
Odebrecht e Andrade Gutierrez. Sua defesa afirma que a denúncia causa
"surpresa e indignação".
O pagamento a Aécio, segundo a PGR, teria sido uma "contrapartida
pelo exercício de influência em negócios da área de energia desenvolvidos em
parceria" com as construtoras, como os projetos do Rio Madeira, as Usinas
Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia.
A missão do político, diz a procuradoria-geral, seria ajudar a viabilizar
a vitória das empresas em licitações que envolviam a Companhia Energética de
Minas Gerais e a estatal federal Furnas. A denúncia ressalta, ainda, que o
político montou um complexo esquema de desvio de verbas públicas para receber
os valores.
Segundo a PGR, intermediários faziam as tratativas para o recebimento da
propina e repassavam a Aécio. O esquema também envolveria doleiros,
transportadoras e uma empresa sediada no exterior.
De acordo com a acusação, o deputado formou um "ciclo de lavagem de
dinheiro que envolveu ocultação e dissimulação por esquema sofisticado de
lavagem, uso de terceiros para obtenção de dinheiro (doleiros), para transporte
e para recebimento, além de uso de codinomes e senha para compartilhamento com
seu preposto, tudo a escamotear a origem ilícita do dinheiro".
Aécio teria recebido R$ 30 milhões da Odebrecht como governador de Minas
Gerais e, depois, como senador; e R$ 35 milhões da Andrade Gutierrez, também
nos dois cargos, entre 2010 e 2011.
Os pagamentos ocorriam para "promover desentraves burocráticos"
de licitações. O objetivo, diz a PGR, seria fazer com que o "andamento de
processos administrativos, licenças e autorizações de interesse da Odebrecht
tivesse tramitação rápida e sem óbices, bem como interferir junto ao governo
federal para anulação da adjudicação da obra referente à Usina Hidrelétrica de
Jirau".
A denúncia cita que o atual deputado federal, derrotado por uma vantagem
mínima na disputa para Presidência da República em 2014, manteve contato com
diversos delatores da operação Lava Jato durante muitos anos.
Este não é o primeiro problema que Aécio enfrenta com a Justiça. Em 2017,
ele chegou a ser afastado do mandato de senador após ter ligação interceptada
negociando o repasse de propina com o dono da JBS, Joesley Batista.
No telefonema, o político pede R$ 2 milhões para o empresário. Na ocasião,
a Polícia Federal foi além e fez uma ação controlada, a pedido da PGR, em que
flagrou um emissário de Batista entregando R$ 500 mil a Frederico Medeiros,
primo de Aécio.
À época, o ministro Edson Fachin, do STF, negou pedido de prisão contra o
então senador, mas o afastou do mandato. O Senado Federal, no entanto,
derrubou, por 44 votos a 26, a decisão da Corte e ele voltou ao parlamento.
Por meio de nota, o advogado de Aécio, Alberto Toron, negou que Aécio
tenha recebido R$ 65 milhões de propina e criticou a denúncia.
"Essa notícia causa surpresa e indignação. Não há e nunca houve
qualquer crime por parte de Aécio Neves. Foi demonstrado exaustivamente que as
conclusões alcançadas pelo delegado são mentirosas e desconectadas dos próprios
relatos dos delatores e, o que é mais grave, das próprias investigações da PF.
Aliás, tamanho é o absurdo do presente caso que os próprios relatos dos delatores
desmentem-se entre si. Basta lê-los", diz.
O advogado destacou, ainda, que o processo corre sob sigilo.
"Depois, mais uma vez a defesa vê-se surpreendida com vazamentos
sistemáticos de inquérito sigiloso, sendo certo que nem mesmo os advogados
tiveram acesso à referida denúncia para rebatê-la. Por fim, a Defesa confia que
o poder Judiciário promoverá a análise detida e imparcial dos fatos e chegará à
única conclusão possível: não há sequer indício de crime por parte do deputado
Aécio".(Via: Folhapress)
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