Uma operação da Polícia Federal
fechou o cerco a Michel Temer com a prisão, nesta quinta (29), de dois amigos
do círculo mais próximo do presidente, entre outras pessoas ligadas a ele.
Detidos em São Paulo, o coronel João Baptista Lima Filho e o advogado José
Yunes são suspeitos de receber propinas e de atuar como "laranjas" do
emedebista em suposto esquema de favorecimento a empresas do setor portuário.
A ação foi autorizada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís
Roberto Barroso, relator do inquérito que investiga se Temer recebeu vantagens
em troca da edição do decreto que renovou concessões portuárias em 2017. Ele
expediu mandados de prisão temporária (até cinco dias, prorrogáveis) contra
outras 11 pessoas, incluindo antigos aliados de Temer, como o ex-ministro da Agricultura
Wagner Rossi (MDB-SP), e empresários.
Em sua decisão, assinada na terça (27), Barroso disse haver indícios de
"um esquema contínuo de concessão de benefícios públicos, em troca de
recursos privados, para fins pessoais e eleitorais, que persistiria por mais de
20 anos no setor de portos, vindo até os dias de hoje".
O Palácio do Planalto já esperava uma nova investida da PF no inquérito,
mas não dessa magnitude. Para aliados, uma ação contra tantos alvos, e tão
próximos do presidente, sinaliza que a investigação poderá extrapolar a questão
dos portos e apurar agora possíveis crimes em outras áreas da administração,
como o setor elétrico e a Agricultura. Além disso, cristalizou-se o temor de
que o emedebista seja alvo de uma nova denúncia, a terceira, o que compromete
ainda mais seus planos de reeleição.
Escalado pelo Planalto para defender Temer, o ministro Carlos Marun
(Secretaria de Governo) disse que o presidente tornou-se alvo de "canhões
da conspiração". Já Temer afirmou que seu cargo é alvo de bombardeios. A
operação, batizada de Skala, teve como alvos atores de pontas distintas da
investigação sobre Temer. Ex-presidente da Codesp (Companhia Docas de São
Paulo) entre 2000 e 2001, Rossi foi citado pelo empresário Joesley Batista,
delator da JBS, como beneficiário de um mensalinho solicitado pelo presidente.
Amigo e ex-assessor do emedebista, Yunes foi mencionado por colaboradores da
Odebrecht como intermediário de repasses ilegais de campanha ao MDB,
supostamente acertados com o então vice-presidente em 2014.
Ao justificar a ação, Barroso citou planilha de 1998, em que aparecem como
recebedores de recursos das empresas Libra, Rodrimar e Multicargo siglas que,
para o ministro, permitem "supor que se trate de Temer, Marcelo Azeredo,
presidente da Codesp entre 1995 e 1998, indicado por ele, e o amigo pessoal do
senhor presidente João Baptista Lima Filho". O documento consta de
inquérito que foi desarquivado e juntado aos autos da operação (leia mais
abaixo).
REFORMA
A operação também se baseou nos negócios de Lima com o governo e com o
próprio Temer. Barroso escreveu que uma das empresas do coronel, a Argeplan,
teve um crescimento exponencial nos últimos 20 anos, recebendo R$ 160 milhões
de um contrato com a Eletronuclear para obras na usina de Angra 3.
Mulher do coronel e sócia dele na LDA Projeção e Direção, a arquiteta
Maria Rita Fratezi foi intimada a depor. A empresa foi a responsável por
reforma na casa de uma das filhas do presidente, Maristela Temer."Há
informações sobre pagamentos de alvos valores em espécie", justificou a
PF.
Também houve mandados de prisão contra os empresários Antônio Celso
Grecco, do grupo Rodrimar, suspeito de pagar propina a Temer pela edição do
decreto que renovou concessões portuárias; e três integrantes da família
Torrealba, dona do grupo Libra, que fizeram doações eleitorais ao MDB.
A PF apura possível vínculo entre essas contribuições e a inclusão de uma
regra, na medida provisória dos portos, que beneficiou a empresa. O ex-ministro
da Secretaria de Portos Edinho Araújo foi intimado a explicar por que renovou
contrato de concessão do grupo mesmo com os débitos de R$ 1 bilhão.
A PF havia requisitado conduções coercitivas dos envolvidos --essas
medidas, no entanto, estão proibidas desde dezembro por uma liminar do ministro
Gilmar Mendes. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, entendeu que
cabia, então, determinar as prisões temporárias dos envolvidos, para viabilizar
a coleta simultânea de depoimentos, e impedir a destruição de provas.
OS
ENVOLVIDOS
João
Baptista Lima Filho
Motivo: Suspeita de ser responsável pela captação de recursos irregulares
para o excelentíssimo senhor presidente da República, por meio de suas
empresas, em especial a Argeplan. Tem justificado o reiterado não
comparecimento [a prestar depoimento] em razão de restrições de saúde.
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária
Maria Rita
Fratezi
Motivo: Mulher de João Baptista Lima Filho e sócia do marido na PDA
Projeção e Direção Arquitetônico Ltda. Trata-se de empresa que realizou reforma
de alto custo em imóvel da senhora Maristela Temer, filha do excelentíssimo
senhor presidente da República. Há informações sobre pagamentos de altos
valores em espécie.
Pedido do STF: Intimação simultânea
Almir
Martins Ferreira
Motivo: Contador da empresa Argeplan. Sua oitiva visa esclarecer a real
capacidade operacional da empresa, bem como se de fato prestou ou ainda presta
serviços para empresas concessionárias de terminais portuários.
Pedido do STF: Intimação simultânea
José Yunes
Motivo: Deve ser ouvido novamente, uma vez que na primeira oitiva o
investigado teria se utilizado de subterfúgios para não responder claramente os
questionamentos --em especial os relacionados a transferência de bens para
investigados e pessoas próximas.
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária
Wagner Rossi
Motivo: Presidente da Codesp entre 2000 e 2001. Ministro da Agricultura
entre 2010 e 2011. Em ambos os cargos foi indicado pelo presidente Michel
Temer. Após exoneração pode ter continuado a receber "mensalinho" de
R$ 100 mil pagos por Joesley batista a pedido do presidente.
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária
Milton
Hortolan
Motivo: Ligado a Wagner Rossi. Foi seu chefe de gabinete no Ministério da
Agricultura entre 2010 e 2011. Suspeita-se que também tenha recebido
"mensalinho" pago por Joesley Batista a pedido do presidente Michel
Temer. Foi acionado por Ricardo Saud para tentar resolver questões no Porto de
Santos (SP).
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária
Eduardo
Luiz de Brito Neves
Motivo: Suposto responsável por apresentar Celso Grecco, da Rodrimar, para
o coronel Lima, da Argeplan. Participou do Conselho Administrativo da Rodrimar
e possui a empresa MHA Engenharia, que teria prestado serviços à Argeplan.
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária.
Carlos
Alberto Costa
Motivo: Sócio-fundador da Argeplan e ex-sócio da AF Consult Brasil,
juntamente com o coronel Lima. pode esclarecer sobre condições do ingresso do
coronel Lima na Argeplan e prestar informações relevantes sobre capacidade
operacional da empresa, contratos com empresas no Porto de Santos, reais sócios
formais e até mesmo sobre eventuais sócios ocultos.
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária.
Carlos
Alberto Costa Filho
Motivo: Filho do sócio-fundador da Argeplan. Ingressou em sociedade da AF
Consult do Brasil com coronel Lima após a saída de seu pai. A AF Consult obteve
contratos que somam mais de R$ 200 milhões com suspeita defavorecimento em
função da proximidade do coronel Lima com o excelentíssimo senhor presidente da
República.
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária.
Maria
Eloisa Adensohn Brito Neves
Motivo: Sócia-fundadora da Argeplan. Deixou a empresa quando do ingresso
formal do coronel Lima em 2011. Pode esclarecer sobre as condições do ingresso
do coronel Lima na Argeplan -- inclusive pagamento pelas cotas da sociedade,
prestar informações relevantes sobre capacidade operacional da empresa,
contratos com empresas no Porto de Santos desde 1998 e reais sócios formais e
Taté mesmo eventuais sócios ocultos da empresa.
Rodrigo
Borges Torrealba
Motivo: Esclarecer os motivos para doação eleitoral pessoal e do Grupo
Libra, de onde partiram os pedidos e possível solicitação indevida de valores
em troca de renovação de contratos de concessão em Santos (SP).
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária.
Ana
Carolina Borges Torrealba Affonso
Motivo: Esclarecer os motivos para doação eleitoral pessoal e do Grupo
Libra, de onde partiram os pedidos e possível solicitação indevida de valores
em troca de renovação de contratos de concessão em Santos (SP).
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária.
Zuleika
Borges Torrealba
Motivo: Esclarecer os motivos para doação eleitoral pessoal e do Grupo
Libra, de onde partiram os pedidos e possível solicitação indevida de valores
em troca de renovação de contratos de concessão em Santos (SP).
Pedido do STF: Intimação simultânea
Gonçalo
Borges Torrealba
Motivo: Esclarecer os motivos para doação eleitoral pessoal e do Grupo
Libra, de onde partiram os pedidos e possível solicitação indevida de valores
em troca de renovação de contratos de concessão em Santos (SP).
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária.
Celina
Borges Torrealba Carpi
Motivo: Esclarecer os motivos para doação eleitoral pessoal e do Grupo
Libra, de onde partiram os pedidos e possível solicitação indevida de valores
em troca de renovação de contratos de concessão em Santos (SP).
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária.
Edson
Coelho Araújo
Motivo: Esclarecer os motivos que levaram a renovar contrato de concessão
do Grupo Libra, mesmo com dívidas de aproximadamente R$ 1 bilhão.
Pedido do STF: Intimação simultânea
Antônio
Celso Grecco
Motivo: Presidente do Grupo Rodrimar. Há suspeitas que seja o principal
articulador entre empresários do setor portuário de Santos (SP) no interesse de
sua empresa e agentes públicos envolvidos nos crimes investigados, inclusive
proximidade com o presidente Michel Temer.
Pedido do STF: Busca e apreensão + Prisão temporária.
Blog: O Povo com a Notícia
Via: Folhapress