Ação de advogados em cadeias está na
mira de intervenção federal
Com base em investigações da
Polícia Civil, que tiveram interceptação de ligações telefônicas dentro de
celas e revelaram que chefões do narcotráfico usam advogados para se comunicar
com as ruas, o sistema prisional do estado passará por um pente fino. O entra e
sai de representantes legais dos detentos está no foco da intervenção. O caso
mais conhecido e recente foi o da advogada Beatriz da Silva Costa de Souza,
presa em outubro de 2017, acusada de usar as prerrogativas profissionais para
transmitir informações dos clientes, como os traficantes Marcinho VP e My Thor,
que estão em presídios federais, a criminosos que ainda dominam favelas do
estado.
Como
O GLOBO revelou em reportagem publicada domingo, uma rede criminosa com
autoridades, agentes penitenciários, advogados e presos controla o pagamento de
propina dentro do sistema penitenciário com o objetivo de criar facilidades na
cadeia. Em entrevista para o jornal, o novo secretário de Administração
Penitenciária, o delegado da Polícia Civil David Anthony, que chegou ao cargo
já na gestão do interventor federal, general Walter Braga Netto, disse ter
carta branca e que dará início a uma série de vistorias nas quase 50 unidades
prisionais do Rio.
—
Nós vamos continuar a dizer a que viemos, vamos continuar dando o recado. Não
haverá um lugar aqui no estado em que deixaremos de entrar. Vamos entrar pesado
e surpreender muita gente — afirmou o secretário.
A
repressão aos “pombos-correio” é considerada fundamental para desarticular a
ligação entre os criminosos presos e suas respectivas quadrilhas de tráfico que
atuam no estado. Para mandar recados ou repassar recursos, os detentos evitam
usar parentes para não expor a família, preferindo recorrer a advogados. Uma
das linhas de investigação, a cargo do Ministério Público estadual, onde correm
outros inquéritos sobre irregularidades nos presídios estaduais, cujo conteúdo
foi revelado pelo jornal, apura o envolvimento destes profissionais com a rede
de influência de traficantes.
—
A sociedade respeita e deve respeitar o profissional do direito, mas há
defensores de bandidos que deixam de lado seus princípios morais e éticos e
agem como elo entre os membros da quadrilha encarcerada e o mundo externo —
reconhece o inspetor penitenciário Wilson Camilo, presidente do Sindicato dos
Agentes Penitenciário do Estado do Rio. — Tanto em Bangu 3-B quanto em Bangu 4,
há casos de presos com três a quatro visitas de advogados no mesmo dia. Isso
não é normal. Quando Beira-Mar estava preso no Rio, em Bangu 1, ele recebia em
média cinco visitas de advogados. (Por Chico
Otávio e Daniel Biasetto – O Globo)
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