O procurador-geral
da República, Augusto Aras, rebateu a declaração de Sergio Moro de classificar
como intimidatório o fato de ser investigado no inquérito aberto para apurar
suas acusações contra o presidente Jair Bolsonaro.
Por meio de nota, Aras refutou a afirmação de Moro e disse
que "não aceita ser pautado ou manipulado ou intimidado por pessoas ou
organizações de nenhuma espécie".
O ex-ministro da Justiça e Segurança Público fez a crítica ao
PGR em uma entrevista à Revista Veja em que disse não ser mentiroso e afirmou
que irá provar a tentativa de interferência do chefe do Executivo na Polícia
Federal.
"Entendi que a requisição de abertura desse inquérito
que me aponta como possível responsável por calúnia e denunciação caluniosa foi
intimidatória. Dito isso, quero afirmar que estou à disposição das
autoridades", disse o ex-juiz federal e ex-ministro de Bolsonaro.
Além de investigar as acusações contra Bolsonaro, Aras também
pediu autorização ao STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar Moro.
Segundo interlocutores da PGR, ele pode ser enquadrado em três dos oito crimes
listados no pedido de abertura de inquérito: denunciação caluniosa, crime
contra a honra e prevaricação.
Aras, no entanto, rebate a avaliação de Moro e diz que está
cumprindo seu papel. "A PGR tem o dever de averiguar todos os fatos -e as
versões que lhes dão os envolvidos- em busca da verdade real", frisa.
E prossegue: "O requerimento de inquérito encaminhado ao
Supremo Tribunal Federal obedece à consagrada técnica jurídica de apurar fatos,
em tese, ilícitos, identificando os responsáveis e a existência ou não de sua
materialidade, em busca de formar convicção sobre a ocorrência ou não de crimes".
O procurador-geral ressalta, porém, que o pedido para apurar
os fatos não significa que os investigados serão denunciados.
"A petição de inquérito apenas narra fatos e se contém
nos limites do exercício das prerrogativas do Ministério Público, sem potencial
decisório para prender, conduzir coercitivamente, realizar busca e apreensão,
atos típicos de juízes -e, só por isso, não tem caráter intimidatório".
Na entrevista, Moro foi questionado sobre quais provas teria
a apresentar, mas limitou-se a dizer que irá se pronunciar quando for
questionado pela Justiça. E isso, inclusive, deve acontecer em breve, uma vez
que o ministro do STF Celso de Mello determinou, na quinta-feira (30), que seu
depoimento seja realizado em até cinco dias.
"Reitero tudo o que disse no meu pronunciamento.
Esclarecimentos adicionais farei apenas quando for instado pela Justiça. As
provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça
solicitar", disse o ex-ministro à Veja.
O ex-ministro acusou ainda o governo Bolsonaro de não
priorizar o combate à corrupção. Além disso, ressaltou que que não teve o apoio
necessário para implementar políticas públicas.
"Sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do
governo foram surgindo no decorrer da gestão. Começou com a transferência do
Coaf para o Ministério da Economia. O governo não se movimentou para impedir a
mudança. Depois, veio o projeto anticrime", observou.
Ao pedir demissão do governo na última sexta-feira (24), o
ex-ministro afirmou que Bolsonaro pretendia substituir Maurício Valeixo por
Alexandre Ramagem no comando da Polícia Federal para que tivesse alguém próximo
à frente da corporação.
A intenção, segundo Moro, seria colher relatórios de
inteligência e ter acesso a informações sobre investigações em curso, o que
viola a autonomia da PF. E Bolsonaro tentou mesmo nomear Ramagem, mas o
indicado teve a posse suspensa por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do
STF.
Além disso, Moro afirmou que não tinha assinado a exoneração
de Valeixo e que soube pelo Diário Oficial. Ainda segundo o ministro, Valeixo
não pediu para ser exonerado, ao contrário do que informa o ato no Diário
Oficial.
Bolsonaro admitiu o erro e retirou o nome do ex-ministro da
assinatura da medida de exoneração do comando da PF. A demissão foi republicada
em edição extra do Diário Oficial da União na noite de sexta (24) sem o nome de
Moro abaixo do de Bolsonaro. (Via: Folhapress)
Blog: O Povo com a Notícia