Recém-formada,
Cecília Leal começou a atender pacientes com suspeita da covid-19 em abril - FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Emergências lotadas,
ambulâncias chegando a todo momento e muitos pacientes com quadros graves que
evoluem rapidamente. Estar na linha de frente contra o novo coronavírus é
desafiador para os médicos veteranos e mais ainda para os profissionais que
acabaram de sair da faculdade, mas a vontade de ajudar a salvar vidas supera a
pouca experiência.
Para entender como os recém-formados estão lidando com
situação, o JC ouviu a médica Cecília Leal, que concluiu o curso na
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em dezembro de 2019, e entrou no
front do combate à covid-19 no início de abril.
“É uma realidade que não tem para onde fugir,
sabe? Desde os postos de atenção básica e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs)
ao nível terciário, como o hospital em que eu trabalho, todos têm que se
adaptar à realidade de atender os casos da covid-19. Antes de chegar em um
grande hospital, esse paciente foi atendido em uma UPA ou em um posto de saúde.
Os recém-formados estão em todos eles”, diz.
Cecília foi
para a área que atende pacientes com suspeita do coronavírus levantadas no
Hospital Miguel Arraes (HMA), em Paulista, na Região Metropolitana do Recife
(RMR). Como a unidade de saúde não integra a rede de referência no tratamento
da doença no Estado, assim que os casos são confirmados, a transferência do
paciente é realizada.
“Eu chego e
vou direto para essa área. Lá é completamente isolado dos outros setores do
hospital. A gente se paramenta e entra para ficar com os pacientes. Só tiramos
os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para almoçar, trocamos, e
voltamos. São plantões pesados porque os pacientes graves evoluem de modo
desfavorável rapidamente. Na assistência, a participação de todo mundo:
enfermeiro, técnico de enfermagem, fisioterapeuta, médico e equipe de limpeza,
é essencial”, explica.
Os primeiros dias na linha de frente
Dos
primeiros dias na linha de frente do combate ao coronavírus, Cecília lembra que
o medo diante do cenário desafiador foi a sensação mais forte, mesmo com todo
apoio dado pelos médicos veteranos. “Foi um misto de ansiedade e medo. Medo do
inesperado, medo de se contaminar, às vezes uma sensação de mãos atadas ao ver
a evolução grave apesar dos esforços, medo de perder os pacientes…”
“A gente tem
muito apoio. Descobrimos o verdadeiro significado de um trabalho em equipe.
Todos se ajudam muito e vemos uma grande união na hora de qualquer
procedimento. Realmente, temos muita assistência dos mais experientes, mas é um
desafio diante do desconhecido, tem uma dose de medo e incerteza”, acrescenta.
Para proteger
os parentes, a jovem médica preferiu mudar de casa e passou a morar sozinha.
“Pelo medo da possibilidade de contaminar minha família, me mudei. Estou longe
dos meus pais e da minha irmã, ou seja, a vida do recém-formado virou de pernas
para o ar, e sem perspectivas de volta à normalidade”, afirma.
A emoção de salvar vidas e a dor de perder pacientes
Na rotina de
atendimentos, a médica diz ter acompanhado mais pessoas sendo entubadas do que
saindo do equipamento, por isso a dor da perda de um paciente de uma maneira
muito rápida se sobrepõe. Mas a satisfação de ver um paciente recuperado, é
imensa.
“A emoção de
salvar uma vida é enorme, porém, por ser uma doença muito grave, às vezes, a
dor de perder um paciente de uma maneira muito rápida é mais forte do que a
satisfação da cura. Há dez dias, todo mundo chegava e era entubado, não peguei
a fase das pessoas saindo, mas é um prazer imensurável ajudar, aliviar o
sofrimento de uma pessoa que não está conseguindo respirar, por mais que a
gente tenha que fazer dormir, botar na máquina, sabemos que estamos promovendo
a melhora e lutando pela vida dela”, diz.
Suspeita de coronavírus e afastamento
Depois de
aproximadamente três semanas de trabalho, no dia 25 de abril, Cecília precisou
afastar-se por ter começado a sentir sintomas da covid-19. Nesta quarta-feira
(6), ela já não sentia mais nada, mas aguardava o resultado do teste para ter a
certeza de quando voltará a trabalhar. Desta vez, em um dos hospitais de
campanha do Recife.
“Estou
sofrendo por estar sem trabalhar. Claro que não posso neste momento, mas me
sinto de mãos atadas. A gente quer cuidar, quer estar junto”, finaliza. (Via: Jc Online)
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