Socialite.activate (elemento, 'Widget');

sábado, 10 de junho de 2023

Diagnosticada com TDI, jovem convive com 18 personalidades no mesmo corpo

A jovem Giovanna Blasi, de 21 anos, tem repercutido nas redes sociais após compartilhar seu diagnóstico de Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) em seu perfil nas redes sociais. Giovanna convive com 18 personalidades dentro do mesmo corpo e até apelidou todas elas.

"Sofri algumas violências na infância, violências físicas, não foi sexual, e, por conta disso, comecei a dissociar [desconectar temporariamente da realidade vivida]. Só que elas [identidades] começaram a aparecer para mim como personagens na minha cabeça, porque tinham a sua forma de falar, o seu jeito, só não tinham nome", contou ela ao R7.

A primeira personalidade, a Momo, apareceu aos cinco anos de idade e, na época, a família acreditava se tratar uma amiga imaginária. "A Momo já surgiu com nome. Ela chegou falando na minha cabeça que o nome dela era Momo e ela foi a primeira identidade do sistema [como é chamado o conjunto de identidades]. [Depois], comecei a dar nome para elas de acordo com as características delas, porque, até então, elas não tinham um nome feito, eram chamadas 'a psicóloga', 'a coisa', 'a estrategista'", lembrou Giovanna.

Com o tempo, de acordo com Giovanna, os "personagens" começaram a "influenciar no meu jeito de falar, na minha forma de agir, etc". O surgimento de outras personalidades estava relacionado a novos traumas.

Por medo, a jovem não compartilhou a situação com a família e chegou a achar que poderia ter esquizofrenia ou borderline.

O que é TDI?

O mestre em psicologia, pós-doutor em neurociências pela Universidade da Califórnia e membro da Society for Neuroscience e da APA (American Philosophical Association), Fabiano de Abreu, explicou que a condição [e o resultado de diversos traumas que a pessoa passou na infância.

"TDI é um distúrbio psiquiátrico complexo, caracterizado pela presença de duas ou mais identidades distintas dentro de uma mesma pessoa. Elas são chamadas de alter egos ou estados dissociativos, e podem assumir o controle do indivíduo de forma recorrente, causando lapsos de memória, por exemplo", disse.

Nessa condição, a mente do paciente desenvolve um mecanismo de defesa, como a dissociação, para conseguir suportar a dor e "proteger a integridade psíquica".

Segundo o especialista, o TDI pode aparecer de duas formas. Na primeira, "as identidades surgem como identidades externas, assumindo o controle da pessoa". Já na segunda, há "uma mudança súbita na forma como percebem a si mesmas ou a sua identidade, sentindo-se como observadores passivos de sua própria fala".

Giovanna disse, ao R7, que a primeira vez que uma das suas personalidades assumiu seu corpo foi aos 17 anos e isso lhe custou o emprego ne época. Na ocasião, a jovem vivia um relacionamento abusivo.

"Uma das minhas identidades assumiu para me defender de uma situação, e foi a primeira vez, que eu lembro, que elas assumiram o corpo", contou Giovanna.

"Estava de férias da faculdade, passando muito tempo em casa, muito presa, cheia de problemas para resolver, contas para pagar. Tinha acabado de perder o emprego, porque estava dissociando – a Momo vinha no front [consciência] enquanto eu estava indo para o trabalho, eu me perdia, chegava atrasada. E, no trabalho, comecei a trocar muito, e a gerente falou que eu estava com um comportamento que não dava para trabalhar na empresa, que eu tinha que me tratar – e eu sem entender nada do que estava acontecendo comigo", relembrou.

De acordo com ela, depois do episódio, ela passou a "trocar de identidade 14 vezes por dia, no mínimo. O namorado, amigos e mãe de Giovanna perceberam a situação e a alertaram.

Depois de três meses de tratamento, que começou em novembro de 2022, com um psiquiatra, Giovanna recebeu o diagnóstico. Seu quadro é acompanhado de amnésia dissociativa, que faz com que ela não lembre o que a identidade fez, e traços de depressão.

Giovanna foi afastada da faculdade e do trabalho para fazer terapia com psiquiatra e neuropsicólogo. O tratamento ainda conta com quatro tipos de remédio, dois deles sendo antipsicóticos.

"[Fui afastada] não porque as identidades são riscos para a sociedade – elas não são – o problema é que elas não podem vir em determinados ambientes e eu não tinha controle sobre as trocas", informou.

A jovem foi parando de reprimir as personalidades e conversando com elas. Giovanna já consegue ter contato com todas as personagens, que ficam em um lugar na mente chamado headspace. Atualmente, ela consegue ter controle sobre as trocas.

Giovanna, porém, deixou claro que ainda pode haver trocas involutárias, dependendo do estímulo externo (gatilho).

Nas redes sociais, Giovanna apareceu explicando um pouco sobre suas 18 personalidades.

Conheça cada "personagem" descrita por Giovanna, a primeira identidade do corpo:

"A coisa" ou Tata – "é uma das minhas identidades que foi diagnosticada recentemente com traços autistas muito notórios, muito graves, de nível 1 a 2 de autismo. Ela foi uma identidade que surgiu para me proteger de algumas violências, então ela é a trauma holder, ou seja, ela carrega todos os traumas, de todo mundo do sistema. Ela tem 14 anos e é muito dócil, muito medrosa, não gosta muito de algumas coisas. [...] Ela tem um dialeto próprio, que ela mesmo inventou, e está aprendendo a falar português agora".

Aline – "é a psicóloga do sistema, guarda todos os meus conhecimentos relacionados à faculdade de Psicologia, que fiz até o 4º ano e vou voltar, se Deus quiser. Ela é muito calma, muito estável, fala baixo, gosta muito de dar conselhos e é muito comunicativa. Aline tem 29 anos e envelhece [muda de idade]".

Ariel – "foi o último do sistema que surgiu [faz um mês e meio], tem 25 anos e envelhece. Ele tem um jeito muito próprio, é homossexual e é homem. É muito carismático, gosta muito de acolher as pessoas e a característica dele é ser o organizador, então ele organiza as atividades laborais das meninas, a minha rotina e a das meninas, e como vamos fazer um circuito para fazer tudo dar certo".

Aurora – "é uma identidade muito gentil, mas é meio sonsa, difícil e um pouco mentirosa – tem que tomar cuidado com as coisas que ela fala. Mas ela é muito dócil, é artista, então gosta de pintura, gesso, artesanato, cantar, fazer teatro, gosta de tudo que é relacionado à arte. Ela tem 19 anos e estamos vendo se vai envelhecer ou não".

Ayana – "Tem 35 anos e carrega a religiosidade do sistema. É uma das identidades que envelhece, a Tata e a Momo não envelhecem. Ela é muito didática, muito acolhedora, muito mãezona, autoritária, então tem uma personalidade bem forte."

Dandara – "é a protetora do sistema – a que protege o sistema de ameaças. Ela tem personalidade antissocial, foi diagnosticada pelo neuro como personalidade antissocial, e não tem sentimentos, não sente nada. Mas não apresenta risco à sociedade, não é criminosa, só é uma pessoa muito fria. Ela é comunicativa, gosta de conversar, mas depende da pessoa. Ela tem 28 anos e envelhece".

Dean – "tem 12 anos e é mudo, mas não é surdo. Ele não consegue se comunicar falando, então se comunica por sinais – estamos pensando em fazer um curso de Libras para ele poder se comunicar com as pessoas. Ele é responsável por esvaziar a minha mente, então consegue excluir lembranças que não me fazem bem, é muito dócil, muito gentil e não envelhece".

Hebert – "é a personificação da minha raiva. Tem uma voz bem grossa, tem 15 anos e não envelhece. Ele é muito engraçado, é comunicativo, gosta de conversar, mas guarda muita raiva, só vem para impor limites, para falar que não gosta de certas coisas, que tem de mudar certas coisas no sistema, que tem de mudar alguma coisa na convivência com os outros, é muito autoritário".

Isabella – "é uma identidade muito ansiosa, treme muito, fala muito rápido e é a estrategista do sistema. Então ela faz todas as planilhas de organização, de rotina, de atividades laborais, faz um monte de planilha. Ela é super controladora – tem que estar tudo no controle dela, se não ela surta. Ela tem 18 anos e não envelhece".

Laura – "é a fitness do sistema. Ela surgiu na época em que eu não conseguia fazer as coisas de casa. Então ela é muito viciada em limpeza e é um pouco hipocondríaca – tem mania de sempre achar que estamos doentes, que precisamos nos entupir de remédio. Ela gosta muito de exercício físico, musculação, comer saudável, é muito focada, muito diferente de mim, inclusive. A Laura tem 24 anos e envelhece".

Lina – "é uma identidade muito relacionada à inteligência: é muito culta, é muito autoritária, muito séria. É muito difícil alguém tirá-la do sério, ela é muito calma. Ela é muito inteligente, então guarda todos os meus conhecimentos, de tudo que já estudei na vida. Ela tem 27 anos e envelhece – quando eu fizer 22 anos, provavelmente, ela fará 28 anos".

Luara – "é a TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade] do sistema. Ela é muito avoada, muito distraída, tem um jeito muito lento de falar. Ela é muito comunicativa, muito legal, super acolhedora, gosta muito de ouvir as pessoas, e mais ouve do que fala, só que é muito distraída, então, provavelmente, ela vai falar com você, vai olhar para o teto e vai começar a falar do azulejo, da mosca, enfim, mas não é de propósito. Luara tem 21 anos e, até onde sabemos, não envelhece".

Lua – "é a psicótica do sistema, ou seja, sempre acha que está sendo perseguida por alguma coisa, [acha que] vê e escuta vozes. Como o próprio nome diz, vive no mundo da lua. Ela tem 17 anos e não envelhece".

Luísa – "é a identidade sensual, gosta de dançar, fazer pole dance, gosta de se comunicar com as pessoas. Ela é muito festeira, gosta de rolê, então achamos que, em algum momento, vai parar de envelhecer [tem 24 anos], porque, normalmente, quando ficamos mais velhos, não temos mais vontade de fazer certas coisas. A Luiza é muito comunicativa, muito engraçada e muito sensual – é muito notório que não sou eu".

Maria Helena ou "Leninha" – "tem 17 anos e não envelhece. Ela é muito depressiva, porque guarda todos os sentimentos do sistema. Então ela sente as coisas de maneira muito intensa, chora muito, é super acolhedora, gosta de ouvir as pessoas. Ela é muito comunicativa, mas gosta mais de ouvir do que de falar".

Melanye – "é muito explosiva, sempre está estressada. Mas ela é muito engraçada e todo mundo gosta muito dela, porque ela fala as coisas na lata, não tem paciência. Ela fala muito rápido, é muito engraçada. A Melanye tem 23 anos e envelhece diferente das demais, a cada três anos".

Momo – "tem cincos anos, e é uma criança muito alegre, muito feliz, é um pouquinho ciumenta, um pouco arteira, e faz muita intriga – ela gosta de fofoca. Mas ela é muito gente boa e é uma criança maravilhosa, gosta muito de receber atenção".

Acompanhe o Blog O Povo com a Notícia também nas redes sociais, através do Instagram e Facebook.