Quando Stephen Hawking se
aposentou, em outubro de 2009, a comoção tomou conta do mundo. Um cientista
cuja carreira parecia condenada ao fim antes mesmo de começar não só cumpriu 30
anos de serviços prestados numa das mais prestigiosas vagas da Universidade de
Cambridge como contribuiu com muitas das ideias que ajudam a definir o Universo
tal como é compreendido hoje.
O cientista morreu no início da madrugada desta quarta (14), aos 76 anos,
em Cambridge, no Reino Unido. "Ele foi um grande cientista e um homem
extraordinário cujo trabalho e legado vai viver por muitos anos", disseram
seus filhos Lucy, Robert e Tim, em comunicado, sem especificarem a causa da
morte.
Nascido a 8 de janeiro de 1942 em Oxford, Inglaterra, Hawking desde cedo
demonstrou interesse por matemática e astronomia, embora nunca tenha sido um
aluno brilhante ou dedicado. Seu pai era biólogo, o que pode ter ajudado a
despertar seu interesse por ciência.
No início de sua trajetória acadêmica, estudou física no University
College de Oxford. Ao obter o bacharelado em 1962, foi para Cambridge, e logo
que chegou começou a desenvolver os sintomas de uma rara e fatal enfermidade
degenerativa conhecida como esclerose lateral amiotrófica.
De progressão usualmente rápida, ela é caracterizada pela crescente
paralisia dos músculos, culminando com a incapacidade de respirar e a morte.
Seu médico havia predito que em três anos, no máximo, Hawking estaria morto
—.antes mesmo da conclusão de seu doutorado.
De início, o jovem viu poucos motivos para continuar engajado. Mas seu
casamento com Jane Wilde, em 1965, a despeito da progressão dos sintomas,
serviu como força motriz para seguir trabalhando. E, para a surpresa dos
médicos, a doença avançou de forma muito mais lenta do que de costume — Hawking
é o atual recordista no quesito longevidade pós-diagnóstico.
REVOLUÇÕES: Trabalhando na área de cosmologia e astrofísica, principalmente nos problemas
ligados aos buracos negros, Hawking descobriu, em 1974, que esses objetos não
são completamente escuros, mas emitem radiação térmica.
Buracos negros, normalmente formados pelo colapso de estrelas de alta
massa, são objetos tão comprimidos e densos que a força gravitacional ao seu
redor impede que qualquer coisa escape deles — até mesmo a luz.
Contudo, Hawking demonstrou que certos efeitos quânticos fazem com que
esses objetos emitam uma pequena quantidade de energia. Isso quer dizer que,
com o tempo (medido em trilhões de anos), eles evaporam completamente e somem
sem deixar vestígios.
Essa foi sem dúvida sua mais relevante contribuição científica, que só não
lhe valeu um Prêmio Nobel porque ainda carece de confirmação observacional. Na
Universidade de Cambridge, Hawking ocupou por três décadas a cátedra Lucasiana,
posto que pertenceu no passado ao físico Isaac Newton. E, como seu antecessor,
ele cultivou sucessos científicos que certamente serão lembrados durante muitos
séculos.
Entretanto, sua imagem pública foi construída longe disso, mais focada em
suas ideias genéricas sobre a origem e a natureza do Universo, inicialmente
apresentadas no best-seller “Uma Breve História do Tempo”, de 1988. Foi graças
a esse livro que Hawking se tornou mundialmente famoso, não só pelos conceitos
que apresentou mas sobretudo pelo fascínio que sua figura — o gênio preso a uma
cadeira de rodas — provocava nas pessoas.
DOIS LADOS DA FAMA: Àquela altura, Hawking só podia falar por um sintetizador eletrônico que
produzia voz (com sotaque americano) baseada em texto digitado pelo cientista
com os poucos movimentos que tinha. Ele perdera completamente a fala depois de
passar por uma traqueostomia de emergência, em 1985, após contrair pneumonia.
Hawking se tornou tão popular que fez uma ponta, como ele mesmo, na série
de TV “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração”, em 1993, e uma gravação sua (com
voz de sintetizador) foi parar numa música da banda Pink Floyd, no ano
seguinte. Mais tarde, ele atuaria como si mesmo em diversos episódios de “Os
Simpsons”.
E foi com base no crescente peso da fama e na dificuldade cada vez maior
de cuidar do marido doente que Jane pediu o divórcio, em 1991, depois de 25
anos juntos e três filhos. Hawking voltou a se casar em 1995, com sua
enfermeira Elaine Mason, mas o segundo enlace terminou em 2006, com acusações
(jamais confirmadas) de que a mulher o agredia.
Ao longo da carreira, Hawking usou sua popularidade para advogar em favor
de diversas causas, principalmente na defesa dos direitos dos deficientes
físicos. Outro tema recorrente era a promoção da exploração espacial. O físico
acreditava que a sobrevivência da humanidade a longo prazo depende da
colonização de outros mundos.
Hawking não só defendeu os voos espaciais como planejou tomar parte neles.
Em 2007, ele se tornou o primeiro tetraplégico a experimentar a sensação de
ausência de peso, ao realizar voos parabólicos em um avião. Era a preparação
para uma futura visita ao espaço, a bordo de uma espaçonave comercial da
empresa Virgin Galactic — que, no final, não se concretizou.
Sua história foi contada no filme “A Teoria de Tudo” (2014). Eddie
Redmayne, que interpretou o físico, ganhou o Oscar de melhor ator em 2015. (Via: Folhapress)
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