Ferramenta de comunicação indispensável nos dias atuais, o WhatsApp também é um terreno fértil para a aplicação de golpes, seja pela clonagem do número de um usuário ou com o criminoso se passando por outra pessoa, utilizando a foto da mesma de forma indevida. Em ambos os casos, ficam expostas, pelo menos, duas vítimas: quem tem o número clonado ou a foto utilizada para pedir dinheiro e quem acredita na mensagem recebida e acaba transferindo o valor.
Com técnicas que burlam a segurança dos aplicativos ao mesmo tempo em que apelam para o lado afetivo, os golpistas estão apenas esperando o mínimo de desatenção para conseguir o que querem, segundo o delegado Eronides Meneses, da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos.
“Nesses golpes, a abordagem
costuma pedir ajuda, alegando que o aplicativo do banco está fora do ar, que
está com problema no login ou até mesmo que não conseguiu realizar a operação.
Também há os casos que a pessoa diz que o celular quebrou e está com um
novo número, pedindo para que aquele novo contato nos grupos”, detalhou.
"Nunca o que for solicitado deve ser feito de imediato. A dica é fazer uma
chamada de vídeo ou mesmo uma ligação. Se o contato se esquiva disso, já é um
indício de golpe", emendou.
Tendo a sua foto utilizada de
forma indevida, uma mulher, que preferiu não se identificar, contou que pessoas
próximas receberam uma mensagem de um número diferente, mas que usava a sua
foto. Na mensagem, esse novo número, que alegava ter trocado de telefone,
solicitava uma transferência no valor de R$ 400. Desconfiadas, as pessoas
contatadas pediram que o criminoso enviasse um áudio. Percebendo que não
conseguiria dar continuidade, ele as bloqueou.
“Fui avisada pelas pessoas, que
desconfiaram da atitude, e resolveram falar comigo de imediato. Eu já tenho a
confirmação em duas etapas ativada e acho que por isso não tive meu número
clonado. Quando liguei para o número que utilizou a minha foto, ouço que aquele
número não existe”, diz a vítima.
Diferente da primeira vítima, o
fim não foi feliz para outra mulher, que também optou por não revelar a
identidade. Com o seu irmão viajando, ela recebeu uma mensagem de um número com
a foto dele solicitando dinheiro. “Na correria do dia a dia, você nem repara ou
questiona algumas coisas. E por ser meu irmão, uma pessoa próxima, não
desconfiei, apenas fiz”, disse.
Já o caso de um homem, que não
revelou seu nome, foi diferente. “Recebi uma mensagem de uma colega de trabalho
e suspeitei porque normalmente ela me chama pelo apelido e na mensagem me
chamou pelo nome. Minha suspeita se confirmou quando ela pediu dinheiro. De
imediato, mandei mensagem em um grupo em que ela estava e na mesma hora recebi
do golpista a ameaça de que se eu falasse do ocorrido nos grupos teria o meu
contato clonado também. Foi aí que removi ela dos grupos e expliquei a
situação”, relata.
Nesses casos, o primeiro passo é
denunciar o contato suspeito no próprio WhatsApp. Em seguida, é preciso dar
seguimento na denúncia, através do e-mail do aplicativo (support@whatsapp.com),
informando o ocorrido. Além disso, a vítima deve comunicar a situação para o
maior número de conhecidos que puder, para que eles não sejam vítimas.
De acordo com a Secretaria de
Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), 153 crimes cibernéticos foram registrados
em 2021, o que indica uma redução de 31,08% quando comparado com o mesmo
período do ano passado, quando foram registrados 222 boletins. Mas esses dados
são subnotificados porque uma parte das vítimas não presta queixa. “As
denúncias são fundamentais para a polícia identificar e prender responsáveis
por esses golpes”, diz a SDS.
A Polícia Civil de Pernambuco
orienta que a vítima de crimes cibernéticos deve registrar um boletim de
ocorrência, que pode ser feito por meio do site da Secretaria de
Defesa Social. Para quem chegou a ter prejuízo financeiro, é
importante entregar as provas na delegacia mais próxima, caso o prejuízo seja
inferior a 40 salários mínimos; ou na Delegacia de Repressão aos Crimes
Cibernéticos, caso o valor do golpe seja maior do que 40 salários mínimos.
Outras dúvidas podem ser tiradas pelo telefone (81) 3184.3207.
Banco de dados das vítimas
Uma das principais dúvidas de quem
foi vítima de um golpe pelo WhatsApp é saber como os criminosos chegaram até os
seus contatos. O delegado Eronides Meneses, da Delegacia de Repressão aos
Crimes Cibernéticos, comenta que existem diversas formas de se obter os
contatos. “Normalmente, quando uma pessoa tem um número clonado, os criminosos
montam um banco de dados com toda a rede de contatos da vítima. Salvam a foto,
o número e o nome. Dessa forma, fica mais fácil para eles tentarem enganar mais
pessoas”, conta.
Ainda segundo o delegado, é
bastante comum o vazamento de dados em sites de bancos, do instituições
públicas, de servidores de e-mail, entre outras. “Existem sites que os
criminosos assinam e têm acesso a uma lista vasta de dados, como nome,
telefone, cpf, rede de contatos mais próximos e uma infinidade de informações”,
diz. “Esses criminosos compram e vendem essas listas na internet também”,
complementa.
Ainda de acordo com o Portal Folha PE, a resolução dos casos, quando há
a operação financeira, passa pela investigação da movimentação bancária do
criminoso que recebeu o dinheiro, utilizando o histórico, a geolocalização e
também as imagens dos caixas eletrônicos. “Rastrear as contas é o método mais
eficaz de conseguir chegar nos estelionatários. Mas não é fácil, porque eles
usam contas de laranjas, que também encontram na internet, ou de pessoas que
cedem seus dados para os golpes”, diz Eronides. Nesses casos, todos os
envolvidos acabam sendo chamados pela polícia para prestar esclarecimentos,
pois se enquadra no crime de estelionato”, finaliza o delegado.
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