O Brasil perdeu 36.331 vidas nesta pandemia de pessoas com obesidade, fator de risco para o agravamento de quadros da Covid-19. Somente na capital federal, 15,3% dos óbitos relacionados ao vírus foram de brasilienses com essa comorbidade. Por conta desse cenário, o Ministério da Saúde classificou a cirurgia bariátrica como um dos procedimentos eletivos essenciais.
A operação deverá ser priorizada na saúde pública e
suplementar com retomada dos procedimentos em até 12 semanas, a contar do
começo de julho, quando a recomendação foi publicada no documento Diretrizes da
Atenção Especializada no Contexto da Pandemia de Covid-19, do Governo Federal.
Ao contrário de doenças pré-existentes como cardiopatia e
diabetes, responsáveis pela maior parte dos casos de óbitos relacionados à
Covid-19 de pessoas com comorbidades, a obesidade tem como característica a
letalidade maior em pessoas com menos de 60 anos que acabam falecendo por conta
da infecção, como mostra o último boletim epidemiológico especial publicado
pelo Ministério da Saúde. Foram 21.336 óbitos registrados nessa população,
enquanto 14.995 mortes foram de idosos.
Questão
de saúde
Todos esses fatos e estatísticas mostram que a cirurgia indicada
em casos de obesidade é um procedimento baseado na saúde do paciente. É isso
que explica o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica (SBCBM), Fábio Viegas. O especialista avalia que entender a cirurgia
bariátrica como um procedimento estético é minimizar a obesidade mórbida.
“O paciente obeso mórbido possui uma incidência elevadíssima
de morte precoce. 70% dos pacientes obesos mórbidos vão morrer antes dos 50
anos de idade, e vão morrer porque possuem hipertensão grave, diabetes, câncer
de mama, câncer de endométrio, câncer de colo, vão morrer de apneia do sono, ou
vão desenvolver insuficiência cardíaca, enfim. São mais de cinquenta doenças
associadas”.
O médico ressalta ainda que é preciso analisar a obesidade
mórbida como uma doença, pois o senso comum ainda enxerga o fator como algo
possível de mudança, algo exclusivamente comportamental. “O obeso mórbido não é
obeso porque quer. Nós estamos falando de uma doença que é metabólica, que é
genética, que é multifatorial. Hoje, a obesidade mórbida é a principal causa de
mortalidade no mundo, e, no Covid grave, nós assistimos uma incidência
elevadíssima de pacientes jovens morrendo de Covid-19 porque eram obesos”,
lembra.
Saúde
afetada
Mariana Areal, 26 anos, realizou a cirurgia há pouco mais de
um ano, por perceber que o sobrepeso estava prejudicando a saúde de diversas
formas. “A minha saúde já estava muito afetada, eu tinha esteatose hepática,
estava pré-diabética e alguns problemas que o sobrepeso acaba acarretando.
Minha vida mudou totalmente. Eu tenho motivação para fazer pequenas coisas,
coisas do dia a dia, que o peso atrapalhava. Porque também é um processo
psicológico”, conta.
A estudante também cita o preconceito que existe na sociedade
em relação à obesidade, diferente de outras doenças comuns. “Fui muito
criticada por fazer essa escolha, com a idade que eu tenho, e ainda existe uma
visão de que a cirurgia bariátrica é considerada muito perigosa, muito
agressiva, mas isso mudou. A falta de informação também gera um preconceito.
Sempre tem alguém que vai falar que era só fazer dieta, ir para a academia,
‘trancar’ a boca. Sempre tem alguém para julgar um processo pelo qual não tem
conhecimento, mas a cirurgia era meu último recurso para recuperar a saúde”,
diz Mariana.
Queda
na pandemia
Apesar de fundamental para reduzir chance de óbitos e
agravamento de casos de infecção pelo novo coronavírus, as cirurgias
bariátricas tiveram queda de 69,9% no número de procedimentos realizados pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) no último ano. Foram realizados 12.568 tratamentos
cirúrgicos de obesidade em 2019 e apenas 3.772 em 2020.
Em 2021, até o mês de maio, o SUS registrou somente 484
cirurgias. No documento de diretrizes da atenção especializada do Ministério da
Saúde, há o destaque de que o retardo no tratamento da obesidade pode resultar
no aumento da morbimortalidade, e que é preciso acelerar o processo, pois o
atraso resultará em danos maiores aos pacientes, com maior custo e sobrecarga,
a médio prazo, para o sistema de saúde.
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