Enquanto Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) enfrentam dificuldades para alavancar suas candidaturas e correm contra o tempo para decolar nas pesquisas, o histórico de pesquisas Datafolha pode desanimá-los: apenas em 1989 o terceiro colocado conseguiu crescer a ponto de chegar ao segundo turno — e, ainda assim, não venceu a disputa final.
Na primeira eleição após a redemocratização, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparecia em segunda posição até setembro, atrás de Leonel Brizola (PDT). A partir de outubro de 1989, o petista começou a aparecer tecnicamente empatado com Brizola e conseguiu conquistar 17,2% dos votos no primeiro turno, enquanto Brizola teve 16,5%.
No segundo escrutínio, Lula disputou com Fernando Collor (então no extinto PRN) e perdeu por 30,5% a 17,2%. O pleito daquele ano ocorreu entre novembro (primeiro turno) e dezembro (segundo turno).
O Instituto Datafolha foi selecionado para a análise, porque é o único que presta o serviço da mesma forma desde a volta da democracia ao país, com constância e regularidade na divulgação de pesquisas eleitorais. Além disso, acervos de levantamentos do instituto estão disponíveis no site oficial.
As discussões em torno de uma candidatura da chamada terceira via para 2022 têm sido marcadas pela falta de consenso e pela dificuldade em encontrar um nome unânime. As saídas de Sergio Moro (União Brasil) e de João Doria (PSDB) da corrida presidencial frustraram as expectativas dos candidatos da terceira via e de uma parcela do eleitorado brasileiro.
Simone Tebet assumiu o papel de tentar unir siglas de centro. Além do MDB, as discussões são capitaneadas por PSDB, Cidadania e União Brasil. Outros partidos ainda não foram fidelizados pelo grupo.
A emedebista, porém, está no último pelotão dos candidatos. De maio a junho, ela passou de 2% para 1% das menções no Datafolha – uma oscilação dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa de junho foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número 09088/2022.
Em outra frente, Ciro Gomes, que vem aparecendo como o terceiro colocado nas pesquisas há meses, tenta se consolidar como possível nome para unir a terceira via, sem sucesso. Com 8% das intenções de voto, o pedetista tem feito acenos aos partidos da terceira via, mas a possível aliança não tem se mostrado frutífera, visto que Tebet já afirmou que pretende levar sua candidatura até o fim e não possui interesse em assumir o posto de vice em outra chapa.
Em 2022, a dificuldade da terceira via se deve muito ao fato de que, pela primeira vez, os dois principais concorrentes — Lula e Jair Bolsonaro (PL) — já exerceram o cargo de presidente da República e possuem altos índices de popularidade. “Há um duelo de óticas de passado, e isso dificulta o surgimento de alguém novo”, avalia o advogado e cientista político Nauê de Azevedo.
“Neste ano, mais do que em vários outros, há dois concorrentes que são atipicamente fortes, que trazem consigo uma situação de popularidade que é até rara. São dois pré-candidatos extremamente populares”, analisa. “É uma situação de, até certo ponto, ineditismo, porque são duas pessoas que, em algum momento de suas trajetórias, já sentaram efetivamente na cadeira presidencial, e têm o que apresentar para as suas respectivas bases.”
Para o analista, tal conjuntura não foi observada em outras eleições no país. “Essa eleição representa um grau de desafio que até agora não foi observado para alguém que queira se intrometer na disputa”, prossegue.
Ainda assim, Azevedo vê potencial de que os candidatos da terceira via influenciem o desfecho da eleição, mas, no atual momento, não há a possibilidade de resolver o jogo em favor deles próprios.
Os terceiros colocados
Nos últimos pleitos, alguns nomes já conhecidos do eleitorado têm se repetido, como é o caso de Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes. Marina já disputou três eleições (2010, 2014 e 2018), mas deve ficar de fora da atual, enquanto Ciro concorre pela quarta vez (1998, 2002, 2018 e 2022).
Em 2014, por exemplo, o terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto era Eduardo Campos (PSB), que despontava como uma candidatura competitiva. Sua morte precoce, em agosto daquele ano, levou a então postulante a vice, Marina Silva (então no PV), a ascender à cabeça de chapa.
Apesar de Marina também ter mostrado bons índices em alguns momentos da corrida eleitoral, ela ficou com 21,32% no primeiro turno, ante 33,6% de Aécio Neves (PSDB) e 41,6% de Dilma Rousseff (PT).
Situação semelhante ocorreu com Ciro em 2018, quando ele ultrapassou Geraldo Alckmin (ex-PSDB, atual PSB) e terminou a disputa de primeiro turno na terceira colocação, com 12,5% dos votos.
Há 20 anos, a eleição também foi disputada e Anthony Garotinho (então no PSB) esteve colado em Serra durante toda a campanha. Ao fim do primeiro turno de 2002, ele chegou com 17,9% dos votos, contra 23,2% de Serra, e não conseguiu avançar. (Via: Metrópoles)