Um estudo realizado pelo Insper e pela Universidade de São Paulo, com o apoio do Instituto Natura, concluiu que investir em educação integral reduz as taxas de homicídios entre jovens em até 50%. A pesquisa teve como referência o projeto pernambucano que há 16 anos, defende o aumento em 10 horas do tempo de aulas. No Brasil, diferentemente de países desenvolvidos, as crianças em geral ficam só quatro horas na escola.
De acordo com o
Estadão, o maior tempo dos jovens nas escolas traz melhorias na aprendizagem,
promove maior oportunidade de emprego e reduz a desigualdade. Além de afastar
os jovens da criminalidade e das drogas. “Não são apenas mais horas, é uma
escola centrada no jovem, que faz ele entender a vida de uma maneira
diferente”, diz o diretor-presidente do Instituto Natura, David Saad.
O pernambucano
Vitor Arruda, hoje com 29 anos, filho de agricultores analfabetos, teve a
possibilidade de cursar uma das primeiras escolas em tempo integral do Estado
de Pernambuco, em Gravatá, 70 km de Recife. Na época, com 15 anos, ele
titubeou entre começar a vender frutas com a mãe para ajudar o sustento da casa
ou estudar. Mas, acabou apostando na segunda opção e mais tarde, ingressou numa
faculdade federal e cursou matemática. “Eu não tinha idéia que seria capaz
de passar para a seleção de uma universidade”, disse. Para ele o maior tempo na
escola foi um divisor de águas. “Muitos colegas de infância estão
envolvidos com criminalidade, foram mortos. Não é romantizar, sei das
dificuldades do sistema de ensino, mas a mudança foi imensa para mim ”,
completou.
Pernambuco tem hoje
70% das vagas de ensino médio em tempo integral, o índice mais alto do
país. O Estado começou a investir em 2004 e hoje todos os municípios têm
uma escola integral. Isso se refletiu com o aumentou nacional da pontuação
do estado no Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) que é o
indicador de qualidade básica de ensino. Em 2019, o desempenho das escolas em
tempo integral aumentou em 7%. Outros estados que também passaram a investir
nesse modelo de estudo como, Paraíba e o Ceará, tiveram resultados semelhantes.
Para um dos
responsáveis pela pesquisa, Leonardo Rosa, que tem doutorado pela Universidade
de Stanford sobre educação, explicou que os dados analisados foram de 2002 a
2018 e levaram em consideração escola em tempo integral versus as unidades de
ensino que não possuíam essa modalidade. Entre os dados coletados, a taxa de
homicídio de jovens de 15 a 19 anos que estudavam em escolas comuns era de
50,8% e para os estudantes das unidades integrais, esse valor diminuiu para
37,6%.
Pernambuco tinha
uma das taxas de homicídios dessa população mais altas do País no início dos
anos 2000. “A cena da violência é muito masculina. O traficante oferece
trajetória para o menino de sonho curto e muito sedutora, que se vê por frente
com o sistema”, explicou.
Atualmente, 24% das
escolas de ensino médio do País são em tempo integral. Em 2016 o Ministério da
Educação começou a investir nesse novo modelo de escola, abrindo editais e
ajudando financeiramente, por 10 anos, as unidades participantes. No entanto,
nos últimos dois anos, o governo de Jair Bolsonaro parou de abrir novos
editais.
“Quem segurou o
tempo integral nos últimos anos foi o terceiro setor, que faz formação de
professores, tem consultores”, diz a secretária de Educação de Goiás, Fátima
Gavioli. O Estado aumentou, entre 2019 e 2022, o total de escolas em tempo
integral de 96 para 240, com pouca ajuda do MEC. Segundo ela, os
professores ganham R$ 2,500 a mais para ficar oito horas nestas
escolas. “Precisamos segurar o bom professor lá.”
Fátima defende que
o ensino em tempo integral comece antes, para segurar a criança na escola. “O
menino que vem o 1º no integral já é mais autônomo, tem o sonho de ir para uma
universidade pública. Muitos que têm a oportunidade só no ensino médio não
aceitam porque acham que trabalhar é mais importante.”
Os currículos das
escolas em tempo integral são pensados para se conectar com a realidade do
estudante e desenvolver competências acadêmicas e socioemocionais.
Apesar de mais gastos com estrutura, maior renda e funcionários com carga horária, a eficiência depois acaba compensando, com menos evasão, por exemplo. “Se Estados como Pernambuco, Paraíba, Ceará e Sergipe, que não são os mais ricos, conseguem fazer é porque é viável financeiramente”, disse o diretor presidente do Instituto Natura, Saad. A entidade apoia mais de 20 Estados com essa política de educação integral. “Escola de ensino médio integral é uma das políticas públicas com mais provas de melhoria de qualidade e impacto na melhoria de vida. O que falta é vontade política”, concluiu. (Via: Agência Brasil)
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