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terça-feira, 23 de agosto de 2022

Bolsonaro nem perdeu nem ganhou na telinha. Por isso, perdeu

Bolsonaro desperdiçou com a entrevista ao Jornal Nacional a melhor oportunidade de crescer nas pesquisas eleitorais em ritmo mais acelerado. É o que ele precisa para evitar a eleição de Lula no primeiro turno ou para não disputar o segundo tão atrás dele.

Outra vez, Bolsonaro preferiu falar para seus eleitores fiéis, porque aposta que os infiéis que o abandonaram acabarão voltando de qualquer jeito. As maiores dificuldades que enfrenta estão entre as mulheres que o rejeitam e os eleitores das classes D e E.

Para esses, não dirigiu uma só palavra, desprezando uma audiência que jamais voltará a ter. Entrou e saiu da entrevista sem ter perdido um único voto, mas também sem ter atraído nenhum. Não significa que empatou, mas que perdeu por não ganhar.

“Sobrevivemos”, confidenciou um dos seus assessores ao jornal O Globo. Como o mercado financeiro torce por um segundo turno para negociar em posição de força com os dois candidatos finalistas, é provável que a Bolsa de Valores suba e o dólar caia.

Bolsonaro estava nervoso, basta ver a cor vermelha de sua face. Ou tomou Rivotril na veia ou foi duro seguir à risca a orientação de comportar-se com brandura. Ficou parte da entrevista na defensiva, beijou a lona algumas vezes, mas levantou-se.

Não partiu para cima dos entrevistadores como muitos temiam. Não deu um bote na Renata Vasconcelos para lhe tomar o celular, se é que ela tinha algum à mão. Mentiu várias vezes com a maior cara de pau, mas convenhamos: nenhum entrevistado é perfeito.

O Instituto Quaest de Pesquisa acompanhou em tempo real a entrevista por meio do seu sistema de monitoramento das redes sociais – perfis abertos no Twitter, Facebook e Instagram. Na média, 9 milhões de pessoas foram impactadas com postagens.

Segundo Felipe Nunes, diretor do instituto, os três momentos em que Bolsonaro recebeu mais críticas foram quando ele falou de urnas eletrônicas e do golpe; da pandemia; e de corrupção no seu governo. Sobre corrupção na sua família, nada lhe foi perguntado.

Os três momentos em que se saiu melhor: no debate com Bonner sobre o ministro Alexandre de Moraes, a quem já chamou de canalha; ao falar sobre o respeito aos resultados das eleições; e ao responder sobre sua aliança com o Centrão.

Bonner tentou uma vez, tentou duas vezes arrancar de Bolsonaro a declaração de que ele se compromete a reconhecer os resultados das eleições, sejam quais forem. Não conseguiu. Bolsonaro condicionou o reconhecimento à “limpeza” das eleições. Ora, ora…

Dito de outra maneira: se ele, e não a Justiça Eleitoral, concluir que as eleições foram sujas, não reconhecerá os resultados. Fará alguma diferença? Poderá fazer se ele cair na aventura do golpe. Se não, apenas irá embora dizendo que foi roubado. Como Trump.

Na média, de acordo com a Quaest, Bolsonaro obteve 35% de menções positivas nas redes enquanto a entrevista era exibida, contra 65% de menções negativas. Leve-se em conta que as redes são território largamente dominado pelos bolsonaristas. (Via: Blog do Noblat)

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