Quase seis meses após a posse do presidente Lula (PT), eleito na disputa mais apertada da história da redemocratização brasileira contra Jair Bolsonaro (PL), a polarização segue dando as cartas no país. Se dizem petistas convictos 29% dos eleitores, enquanto 25% se qualificam como muito bolsonaristas.
Os dados, aferidos pelo Datafolha em sua mais recente pesquisa nacional, mostram um quadro de estabilidade em relação às duas rodadas anteriores em que a questão foi colocada.
Em dezembro, 32% se diziam petistas, número que foi a 30% em março. Bolsonaristas eram 25% no fim de 2022 e 22%, há três meses.
Neste levantamento, foram ouvidas pelo instituto 2.010 pessoas com 16 anos ou mais, de 12 a 14 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos, o que demonstra o cenário estável de cisão nacional.
Como nas outras vezes, o Datafolha mensurou o espectro da polarização, partindo de 1 (totalmente bolsonarista) a 5 (totalmente petista), tendo 2 como uma classificação de mais bolsonarista que petista, 4, o contrário, e 3, um ponto de neutralidade.
Os números também se mostraram estáveis. Agora em junho, 7% se diziam mais bolsonaristas que petistas e 10%, o inverso. Já 20% se colocam no centro da escala, enquanto 8% afirmaram não preferir nenhuma das designações. Portanto, no cômputo geral, tem-se um país com 38% de petistas e filopetistas (a soma dos dois grupos não totaliza 39%, como indicariam os dados isolados, devido aos arredondamentos), ante um contingente de 32% de bolsonaristas e simpatizantes.
Os petistas mais petistas, por assim dizer, seguem as linhas de fratura usuais que acompanham a preferência pelo PT desde que o partido antagonizava com o PSDB o protagonismo da política nacional.
Assim, são mais petistas os nordestinos (41%), os menos instruídos (40%) e os mais pobres (38%). Aqui, a vantagem eleitoral para Lula decorre do fato de esses serem estratos volumosos na amostra populacional da pesquisa, 26%, 32% e 48% dos ouvidos, respectivamente.
Seguindo o manual da polarização, que por sua vez trouxe com variações mais à direita o eleitorado tradicionalmente antipetista associado até 2014 ao tucanato, são mais bolsonaristas os mais velhos (33%, 20% dos ouvidos), os evangélicos (34%, 29% dos entrevistados) e os sulistas (36%, 15% da amostra).
A estabilidade registrada desde dezembro nesses dados mostra uma certa impermeabilidade do eleitorado a fatos mais ou menos agudos. Este ano já registrou uma grave crise associada ao golpismo bolsonarista, nos atos de 8 de janeiro em Brasília, e um desgaste crônico de Lula devido a sua má articulação política.
Nem um fato nem outro mudou opiniões de forma sensível. Restará saber como se comportará o bolsonarismo com a eventual suspensão dos direitos políticos do ex-presidente, que tem julgamento marcado para o próximo dia 22 no Tribunal Superior Eleitoral e grandes chances de ficar sem poder disputar eleições por oito anos.
Neste caso, se for válida a lógica que marcou a migração do eleitorado tucano para uma esfera de direita mais radicalizada, mesmo que a reboque, algum nome da centro-direita no mercado poderá tentar assumir a vaga de Bolsonaro.
Hoje, o principal candidato a fazer isso é o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi ministro do ex-presidente, mas que busca uma trajetória de uma direita mais racional e distante dos arroubos golpistas do ex-chefe, apesar de fazer acenos à antiga base.
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