Este ano 2021, a Missa do Vaqueiro acontece no domingo dia 25 de julho, às 9h da manhã! Pelo segundo ano devido aos protocolos oficiais da pandemia, você assistirá a 51ª Missa do Vaqueiro no canal do youtube - Missa do Vaqueiro. A missa tem coordenação de Helena Cancio/Fundação Padre João Câncio.
Compreender que a história vem se tecendo com a força da própria vida. E
por isto, disse o cantador, escritor Virgilio Siqueira, daí não ser possível
guardar na própria alma a transbordante força de uma causa.
“Tengo lengotengo lengotengo lengotengo … O vaqueiro nordestino/morre
sem deixar tostão/o seu nome é esquecido/ nas quebradas do Sertão ...Os versos
ecoam pelo lugar, realçados pelo trote dos animais e o balançar natural dos
chocalhos trazidos pelos vaqueiros. É música. É arte.
A música, a Morte do Vaqueiro, composta por Nelson Barbalho, ainda ecoa
nos sertões brasileiros: Raimundo Jacó, um vaqueiro habilidoso na arte de
aboiar. Reza a lenda que seu canto atraía o gado, mas atraía também a inveja de
seus colegas de profissão, fato que culminou em sua morte numa emboscada. O
fiel companheiro do vaqueiro na aboiada, um cachorro, velou o corpo do dono dia
e noite, até morrer de fome e sede.
Cada arte emociona o ser humano e maneira diferente! Literatura, pintura
e escultura nos prendem por um viés racional, já a música nos fisga pelo lado
emocional. Ao ouvir música penetramos no mundo das emoções, viajamos sem
fronteiras.
A viagem mais uma vez é o destino Serrita, Pernambuco, sítio Lages, ali
um primo de Luiz Gonzaga, Rei do Baião, no ano de 1951, Raimundo Jacó, homem
simples, sertanejo autêntico, tendo por roupa gibão, chapéu de couro tombou
assassinado.
Realizada anualmente sempre no mês de julho, a Missa do Vaqueiro de
Serrita tem em suas origens uma história que foi consagrada na voz de Luiz
Gonzaga, criada com os amigos Padre João Câncio e Pedro Bandeira, violeiro.
Este ano a Missa do Vaqueiro de Serrita completa 51 ano. As celebrações
serão virtuais devido ao decreto de pandemia que não permite aglomerações.
A história de coragem se transformou num mito do Sertão e três anos após
o trágico fim, sua vida foi imortalizada pelo canto de Luiz Gonzaga, A morte do
vaqueiro. O Rei do Baião, que era primo de Jacó, transformou “A Morte do
Vaqueiro” numa das mais conhecidas e emocionantes canções brasileiras.
Luiz Gonzaga queria mais. Dessa forma, ele se juntou a João Câncio dos
Santos, na época padre que ao ver a pobreza e as injustiças sociais cometidas
contra os sertanejos passou a pregar a palavra de Deus vestido de gibão, para
fazer do caso do vaqueiro Raimundo Jacó o mote para o ofício do trabalho e para
a celebração da coragem.
Assim, em 1970, o Sítio Lajes, em Serrita, onde o corpo de Raimundo Jacó
foi encontrado, recebe a primeira Missa do Vaqueiro. De acordo com a tradição,
o início da celebração é dado com uma procissão dos vaqueiros a cavalo, que
levam, em honras a memória do vaqueiro, oferendas, como chapéu de couro, gibao,
queijo, farinha e rapadura, ao altar de pedra rústica em formato de
ferradura.
A missa, uma verdadeira romaria de renovação da fé, acontece sempre ao
ar livre. A Missa do Vaqueiro enche os olhos e coração de alegria e reflexões.
O poeta cantador de viola, Pedro Bandeira, falecido em agosto de 2020, era
conhecido como o príncipe dos poetas populares do Nordeste, morreu aos 82
anos e se fez presente em todas as missas, nas últimas venceu o peso
da idade e iluminava com uma mágica leveza rimas e versos nos improvisos da
inteligência.
Pedro Bandeira é autor de centenas de músicas, entre elas a “Graça
Alcançada”, que veio a ser gravada por mais de 20 intérpretes e pode ser
considerada o hino dos romeiros e das romarias em Juazeiro do Norte.
Vaqueiros e suas mãos calejadas, rostos enrugados pelo sol iluminam
almas. Em Serrita ouvimos sanfonas tocando alto o forró e o baião. Corpo e
espírito ali em comunhão. A música do Quinteto Violado, composto por Janduhy
Filizola é fonte de emoção. A presença de Jesus Cristo está no pão, cuscuz,
rapadura e queijo repartidos/divididos na liturgia da palavras.
Emoção! Forte Emoção é o sentimento na Missa do Vaqueiro ao ouvir
sanfona e violeiros:
“Quarta, quinta e sexta-feira sábado terceiro domingo de julho/Carro de
boi e poeira cerca, aveloz, pedregulho Só quando o domingo passa É que volta os
viajantes aos seu locais primitivos/Deixa no caminho torto/ o chão de um
vaqueiro morto úmido com lágrimas dos vivos".
E aqui um assunto místico: quando o gado passa diante do mourão onde se
matou uma rês, ou está esticado um couro, é comum o gado bater as patas
dianteiras no chão e chorar o "sentimento pelo irmão morto". O boi
derrama lágrimas e dá mugidos em tons graves e agudos, como só acontece nos
sertões do Nordeste!
Assim eu escutei e aqui reproduzo... (Artigo Ney Vital-jornalista)
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