Na noite de ontem, pistoleiros invadiram o acampamento Nelson Mandela, uma ocupação urbana do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), às margens da BR-101, no bairro do Jordão, no Recife.
Cerca de 300 famílias foram surpreendidas com a
chegada de quatro homens armados durante a noite, que agrediram e mantiveram um
militante refém e balearam outro na cabeça. A vítima preferiu não ser
identificada. As informações são do portal Brasil de Fato.
José Severino da Silva, dirigente do MST na região metropolitana
e que estava presente no local, aponta que a ação é parte das investidas contra
o acampamento. Os ataques começaram há duas semanas. “Chutaram meu rosto e
deram um tiro que pegou na cabeça de um companheiro, que perdeu muito sangue e
está internado. Em menos de um minuto chegou uma viatura da polícia, mas
disseram que não iam fazer nada, que ali era cada um por si. Essa é a segunda
vez. Na semana passada me perseguiram de carro”, explica o militante.
Localizada na Zona Sul do Recife, a Ocupação Nelson Mandela vive
hoje em um terreno e em prédios construídos há cerca de 12 anos, mas que
estavam inutilizados. Há um mês teve início a ocupação, com cerca de 300
famílias no local. De acordo com o MST, a maioria das famílias são de vítimas
dos alagamentos que aconteceram no mês de maio na cidade de Jaboatão dos
Guararapes, vizinha à capital Recife.
Paulo Mansan, da direção
estadual do MST em Pernambuco, explica que o cenário de agravamento da
desigualdade tem sido decisivo para que o movimento volte a ocupar imóveis na
zona urbana dos grandes centros. "O povo não tem mais dinheiro para pagar
aluguel e entre pagar aluguel e comer, as pessoas optam por comer. A luta
urbana está sendo muito necessária e o MST vem trabalhando nesse período de
pandemia com cerca de 56 ocupações urbanas aqui na região metropolitana” ressalta.
Os ataques no local começaram há duas semanas, justamente quando
o movimento começou o diálogo com a Companhia Estadual de Habitação e Obras
(CEHAB) para a regularizar a permanência das famílias no local. “Não vamos
aceitar intimidações e ameaças por parte de quem quer que seja, da especulação
imobiliária que está ali por volta. O movimento deve ampliar essas ações de
denúncia, mas estamos em diálogo para que o Governo do Estado garanta a
segurança”, afirma o dirigente estadual.
Hoje, as famílias estão em assembleia para definir os próximos
passos da ocupação. O militante que foi baleado segue internado no Hospital da
Restauração, no Recife, mas está fora de perigo.
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