O tema é debatido discretamente, por suas implicações óbvias, embora a motivação seja relativamente evidente: a radicalização presumida no ambiente político e a natureza de alguns apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
Não é segredo para ninguém que uma parcela expressiva da base
bolsonarista é entusiasta de armas como o presidente e, em alguns casos,
preconiza o uso da violência. Além disso, as relações do grupo político com
milicianos e setores mais radicais de polícias estaduais é notória.
Não é uma preocupação só à esquerda, claro. O próprio
Bolsonaro foi ferido a faca em 2018 por um ex-integrante do PSOL que foi
diagnosticado como doente mental.
O atentado contra o então candidato é visto como um marco
para as campanhas eleitorais no pós-redemocratização, que no Brasil sempre
tiveram no corpo a corpo um fator essencial para a construção imagética da
associação entre a candidatura e a população.
Segundo a Folha de S.Paulo ouviu de dirigentes petistas, a
ideia era de fazer o reforço já agora, na pré-campanha, mas Lula vetou a
hipótese. Em um país com histórico de violência política, como ex-presidente,
ele tem uma escolta de quatro agentes da Polícia Federal e dois motoristas com
carros oficiais.
Mas usualmente a segurança dos eventos a que comparece fica a
cargo da organização local, seja um sindicato ligado à Central Única dos
Trabalhadores (CUT) ou a grupos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST).
Na viagem que Lula fará ao Nordeste, que deve começar no dia
8 de agosto, a logística de segurança inicialmente estará a cargo desses
apoiadores.
O mesmo acontecia em campanhas, embora o atentado contra
Bolsonaro tenha mudado o jogo em 2018 — o número de agentes da PF por candidato
que os requisitasse chegou a cerca de 25 em dias de atividades de rua mais
intensas.
O temor de ser alvo de algum apoiador do outro lado do
espectro político ficou mais intenso após a caravana de ônibus que acompanhava
Lula pelo Sul do país em 2018 ter sido alvo de tiros, num episódio em que
ninguém foi ferido.
O ex-presidente lidera as pesquisas de intenção para a
Presidência neste momento. Segundo o Datafolha, o petista teria 46% ante 24% de
Bolsonaro em um primeiro turno.
Se for profissionalizar a segurança de Lula, o PT terá de
colocar a mão no bolso. Estimativa de empresas de segurança colocam um esquema
topo de linha, com vários agentes por turno, coletes à prova de bala, veículos
blindados e comunicação de ponta, em torno de R$ 500 mil mensais.
Naturalmente, há um pouco de tudo a depender do pacote a ser
adotado, que também depende do perfil do cliente: no caso de Lula e Bolsonaro,
um pesadelo de logística, dado que ambos são políticos que trabalham à exaustão
o uso de imagens deles entre o proverbial povo.
No caso do presidente, o serviço é feito pelo Gabinete de
Segurança Institucional, que não divulga números de efetivo ou gasto por
operação, que incluem deslocamentos em aeronaves oficiais.
Um militar que trabalhou no órgão diz que até 50 homens são
mobilizados para a proteção específica do presidente, a depender da exposição.
O fato de Bolsonaro já ter sofrido um atentado o faz usar
constantemente coletes de proteção e até o capacete que ele usa nos passeios de
moto que promove é, segundo ele, à prova de tiros de fuzil.
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