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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Dólar recua após disparada da véspera com discurso de Lula

Investidores ajustavam suas carteiras nesta sexta-feira (11) tentando achar novos preços para o risco de aplicar dinheiro no mercado de ações brasileiro depois do discurso da véspera do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ter sido compreendido pelo mercado como uma defesa do descontrole das contas públicas em nome da necessidade de ampliar gastos com assistência social.

No radar dos analistas está a PEC discutida pela equipe de transição para acomodar gastos acima do teto em 2023.

Por volta das 11h30, o dólar comercial à vista recuava 1,48%, a R$ 5,3160 na venda. Na Bolsa de Valores brasileira, o índice de ações Ibovespa subia 0,59%, aos 110.430 pontos.

"Perplexidade e descrença" foram a palavras escolhidas por Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, para descrever a reação do mercado às falas de Lula.

"A conversa com os economistas de plantão é de perplexidade e descrença, pois o discurso de ontem teve um risco retorno assimétrico para a nova administração. Foi um tom eleitoral com uma eleição ganha, numa semana de grande ansiedade sobre a direção econômica do novo governo", comentou Lima, em seu boletim diário a investidores.

"A mensagem para os mercados foi clara: gasto social é investimento, rubricas são secundárias. Mas ninguém entendeu a estratégia da nova administração até agora. Contrária à expectativa do mercado, a equipe de transição e Lula não moderou o discurso com relação à agenda fiscal", completou.

Resultados negativos na temporada de balanços atrapalhavam a recuperação do Ibovespa, entre eles o do Itaú Unibanco, apresentado na véspera.

Na quinta-feira (10), o mercado financeiro refletiu o descontentamento de investidores com as críticas feitas por Lula a regras que limitam os gastos públicos.

As declarações do petista tiveram impacto em um ambiente de negócios já prejudicado desde as primeiras horas do dia pela divulgação da inflação de outubro, que acelerou acima do esperado.

O dólar comercial à vista disparou 4,08% e fechou cotado a R$ 5,3960, na venda. Foi a maior elevação percentual diária desde o salto de 4,86% registrado em 16 de março de 2020, no início da pandemia.

O Ibovespa, índice referência da Bolsa de Valores brasileira, tombou 3,35%, aos 109.775 pontos, no maior recuo diário desde setembro de 2021. Antes do encerramento da sessão, porém, chegou a mergulhar mais de 4%.

A volta da inflação no país também contribuiu para o mau humor do mercado doméstico. Após três meses consecutivos de deflação, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) voltou a subir em outubro, informou nesta quinta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Puxado pelos alimentos, o indicador oficial de inflação do país teve alta de 0,59% no mês passado. A taxa ficou acima das projeções de analistas consultados pela agência Bloomberg, que esperavam avanço de 0,49%.

Ações ligadas ao setor de consumo de bens não essenciais, mais vulneráveis à alta da inflação porque podem mais facilmente serem dispensados pelos consumidores, desabaram 8%, em média.

Enquanto o mercado brasileiro derreteu, o americano disparou diante da perspectiva de queda dos juros após um recuo maior do que o esperado dos preços ao consumidor americano em outubro. A taxa anual está agora acumulada em 7,7%, contra os 8,2% registrados em setembro.

Essa diferença de ambientes relacionada à expectativa de alta da inflação no Brasil e queda nos EUA provocou grande dispersão entre o Ibovespa e o S&P 500, parâmetro da Bolsa de Nova York, que subiu 5,54% nesta quinta.

A diferença negativa para o Ibovespa em 8,9 pontos percentuais em relação ao S&P 500 nesta quinta só não foi maior do que a dispersão de 9,2 pontos observada em 18 de maio de 2017, dia seguinte ao episódio que ficou conhecido no mercado como Joesley Day, segundo levantamento do TradeMap com dados a partir de 2010.

Em 17 de maio de 2017, a divulgação de uma conversa entre o ex-presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista gerou uma crise política que praticamente inviabilizou planos do governo para a economia na época, como reforma da Previdência. (Via: Folhapress)

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